A Manchete continuaria perdendo estrelas nos primeiros dias de 1993, dentre elas Otávio Mesquita e Angélica. Além dos artistas e programas, afiliadas por todo o país deixavam a Rede Manchete para se filiarem, principalmente, à Rede Record.
Greves em rede
Em fevereiro de 1993, Jayme Monjardim volta à Manchete, e acaba com o Cinemania II e o Documento Verdade, alegando que o público não estava mais interessado em programas pesados e ultra realistas, mas sim em um conteúdo mais leve. Durante o restante do mês, greves se espalharam pelas emissoras do Rio e São Paulo, e muitos funcionários chegaram a ir às ruas pedir comida para os motoristas.
Em março funcionários invadem os controles da emissora no Rio e colocam slides no ar denunciando a falta de salários que se arrastava desde dezembro. Pela primeira vez na história os funcionários tomavam o controle de uma rede de TV. Durante esta confusão, a emissora de São Paulo chegou a gerar o sinal para toda a rede, mas o sinal caiu, e a TV ficou fora do ar por mais de 4 horas. A TV Globo entrou com uma câmera escondida e registrou a confusão.
A dívida da Manchete com o Banco do Brasil somava U$S 30 milhões de dólares, e com a Previdência Social chegava a 160 milhões. Além disso, Hamilton Lucas de Oliveira estava sob investigação por ter sido beneficiado no esquema de propinas de PC Farias.
As greves continuavam pelo país, e funcionários do Rio organizaram uma caravana para retirar do ar a filial de São Paulo, mas não tiveram sucesso. Carlos Chagas, diretor da Manchete em Brasília, aderiu à greve. Neste momento, só a técnica estava funcionando. Os departamentos de produção e jornalismo estavam de braços cruzados.
A tensão em torno da possível interrupção do sinal da rede por parte dos funcionários do Rio fez com que São Paulo solicitasse, à filial carioca, fitas do acervo sob o pretexto de “recatalogação”. Em paralelo conseguiram através do acervo pessoal de Jayme Monjardim, em VHS, toda a novela A História de Ana Raio e Zé Trovão que, depois de receber algum tratamento, foi recolocada no ar.
Desesperada, a direção da emissora negociava a aquisição de programas enlatados. A esta altura, os funcionários de São Paulo também já estavam em greve.
Angélica, a maior estrela da emissora, assina contrato com o SBT.
Liminar devolve TV para família Bloch
No dia 25 de março Adolpho Bloch publicou uma carta à imprensa, contando sua trajetória, sobre sua “luta” em erguer a emissora de TV, os prêmios por ela recebidos, e das dificuldades políticas que o motivaram vender 49% das ações mais o controle da emissora.
O empresário declarou que Hamilton teria pago apenas 10% do acordado e estaria tentando vender parte do patrimônio à sua revelia (as emissoras do Ceará e Pernambuco, principalmente).
Além disso, denunciou o descumprimento do contrato de venda, por parte do Grupo IBF e que, por isso, tinha entrado com um pedido de liminar na justiça solicitando o cancelamento da operação e consequente retorno da gestão para suas mãos.
Bloch pediu paciência aos funcionários, telespectadores e o mercado publicitário, e garantiu que a recuperação do controle da Manchete seria uma questão de tempo. Pediu também o apoio do presidente Itamar Franco.
A justiça acata o pedido, cancela a venda da Manchete e ordena a volta do controle da emissora a Oscar Bloch Sigelman, sobrinho de Adolpho, e que, por ser brasileiro nato, era formalmente o proprietário da empresa TV Manchete Ltda.
O dono do grupo IBF entrou com um recurso, mas perdeu a causa. O grupo Bloch se comprometeu a pagar os salários atrasados em trinta dias.
Nilton Travesso rompe no final de março com a emissora, depois de cinco anos como diretor de programação.
Anúncio da retomada da Manchete pelo Grupo Bloch
Juntando os cacos
Ao reassumir a emissora, o Grupo Bloch encontrou a situação ainda pior. Vários profissionais saíram da casa, como por exemplo, Otávio Mesquita, Angélica, Leila e Eliakim, e programas como o Documento Especial. A dificuldade em formar uma grade de programação lucrativa era ainda maior.
Marcia Peltier assume o JM
Os investimentos começaram com a contratação de Mylla Christie para o Clube da Criança, a estreia dos programas de videoclipes Raio Laser, o programa de debates Bate Boca com Solange Bastos, e a estréia de Marcia Peltier no comando do Jornal da Manchete Primeira Edição.
Novidades da programação de 1993
Fernando Barbosa Lima assume, neste mesmo ano, a diretoria-geral da emissora.
Greve… de novo
Ainda assim, em julho, funcionários da Manchete em São Paulo, novamente em greve devido a atraso no pagamento, invadem a torre paulistana e veiculam manifestos no ar. Foram dez horas de slides com a frase “estamos passando fome” e entrevistas com políticos da esquerda e sindicalistas.
O Marajá: novela censurada
Escrita por Regina Braga, começou a produção da novela O Marajá baseada na vida do ex-presidente Fernando Collor de Mello. O clima era de expectativa e a grande repercussão insinuava um grande sucesso, mas uma liminar obtida pelo ex-Presidente na justiça proibiu sua exibição no dia da estreia. A censura e a posterior iminência de derrubada da liminar pela Bloch deu pano pra manga.
A novela teria 50 capítulos, mas com a suspensão, Marcos Schetman reduziu para 30 e Adolpho Bloch mandou sumir com as fitas. O jeito foi aproveitar os atores para um novo projeto: a novela-reportagem Guerra sem Fim, que tinha como pano de fundo o tráfico de drogas do Rio. A novela utilizou o prédio da Manchete e suas instalações para baratear a produção, protagonizada por Alexandre Borges e Julia Lemertz.
Balanço: SBT faz a limpa e se isola na vice
Os anos conturbados de 1991 a 1993 contribuiriam para o crescimento do SBT. A TV de Silvio Santos aos poucos foi levando profissionais, programas a até algumas afiliadas da Manchete. Além disso, contratou uma série de técnicos da dramaturgia, contribuindo para a construção do departamento na emissora paulistana. Lá, Nilton Travesso assumiu a dramaturgia e lançou, logo em 1994, o sucesso “Eramos Seis”. O SBT consolidou a vice-liderança com atrações da Manchete como Perfil, Documento Especial, Leila e Eliakim no Jornal do SBT, Angélica nas tardes da emissora, etc.