A Copa do Mundo pela TV Manchete

A Manchete fez história nas Copas de 1986 e 1990, dando um banho até na Globo. Priorizou o evento na grade de programação, atingindo a maior quantidade de horas de transmissão. Em 1998, teve prejuízo, ajudando a piorar a crise que já se instalava na emissora.

Durante seus 16 anos, a Manchete também participou da cobertura do evento esportivo preferido do povo brasileiro: a Copa do Mundo de Futebol da Fifa. Das quatro “copas” que aconteceram no período, a emissora só deixou de transmitir a competição de 1994, pois seu grupo controlador deixou de pagar as parcelas à OTI entre 92 e 93, durante o período em que esteve sob a gestão do grupo IBF.

Nas demais edições (1986, 1990 e 1998), a Manchete tentou se diferenciar de Globo e Bandeirantes com a proposta de levar ao telespectador o maior número de horas sobre a Copa durante sua programação.

As transmissões esportivas da Manchete contavam com Paulo Stein, Alberto Leo e Marcio Guedes, a trinca de apresentadores da Manchete Esportiva. Stein e Leo foram, também, diretores de esportes da emissora em períodos diferentes.

Como comentaristas, por lá passaram nomes nomes de peso como Armando Marques, João Saldanha, Zagallo, Falcão, Washington Rodrigues, Renato Gaúcho, Carlos Alberto Torres, Milton Neves, e muitos outros. Narrando as partidas, a Manchete contou com Osmar Santos, Osmar de Oliveira, José Silvério e Halmalo Silva além do também diretor e apresentador, Paulo Stein.

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Copa do Mundo do 1986: a Manchete na Copa do México

Na Copa do México, a Manchete repetiu o título que a consagrou nas transmissões do Carnaval: Copa Total. A emissora chegou a bater 17hs por dia com partidas e programas especiais obre o evento.

Imagem de Esportes da Rede Manchete
17hs por dia de Copa do Mundo

Para dar ainda mais destaque à cobertura da emissora, a Manchete se antecipou e reservou, dois anos antes do evento, o melhor satélite para enviar o sinal ao Brasil. Deixou as concorrentes com os piores horários ou com satélites de pior qualidade.

Além dessa jogada de mestre, a jovem emissora montou sua base ao lado da concentração da seleção de futebol, lhe proporcionando proximidade inédita com a os jogadores brasileiros. Cobriu os treinos, fez entrevistas com jogadores, e mostrou o dia-a-dia da equipe com exclusividade. Nos dias de semana, a Manchete entrava ao vivo direto do local, e ficava por horas no ar, ocupando boa parte das tardes.

A Globo tentou correr atrás, mas a Manchete tinha providenciado também uma estrutura para driblar um problema característico da região: os morros de Guadalajara impediriam a chegada do sinal até o satélite. Pra contornar, a Manchete instalou repetidores semanas antes de o evento começar. A Globo só de deu conta do problema quando a Copa já havia começado, e teve que correr contra o tempo para montar estrutura similar.

Brasil 3x Irlanda 0. Trecho da Copa 86

Em relação a equipe que havia participado das Olimpíadas de 1984, dois reforços vindos da Globo: Marcio Guedes e o ex-técnico João Saldanha. Ambos reforçaram o time da Copa do México na Manchete.

Além de Globo, Manchete e Bandeirantes, o SBT formou um consórcio com a Record para fazerem exatamente a mesma cobertura, ou seja, ambas compartilhavam a equipe e os sinais exibidos pelos canais.

Manchete, Bandeirantes e o consório SBT-Record, poe sua vez, formaram um pool para baratear o custo individual de cada emissora pelo uso das imagens das partidas.

A emissora dos Bloch foi a segunda colocada no Rio de Janeiro durante os jogos da seleção brasileira. Em São Paulo, onde tradicionalmente tinha mais dificuldade, ficou atrás da Band e Record.

Copa de 1990 na Manchete: a Copa da Itália

No ano de ouro da emissora, no qual exibia o fenômeno Pantanal no horário nobre, a Manchete enviou 100 profissionais para a cobertura dos jogos. Entre eles, Osmar Santos foi contratado para reforçar o time de narradores, um dos maiores nomes da TV à época. Santos se juntou a Osmar de Oliveira e Paulo Stein na função.

Mylena Ceribelli integrava o time de apresentadores. Para comentar as partidas e os debates, a emissora garantiu o reforço de Paulo Roberto Falcão, Carlos Alberto Torres e Zagallo, que se juntaram ao veterano Marcio Guedes e ao ex-técnico João Saldanha.

Equipe da Copa da Itália na Manchete -  1990
Equipe da Copa da Itália na Manchete – 1990

Mylena Ceribelli comandava também a primeira mesa redonda só de mulheres. Ao lado de Leda Nagle, que à época apresentava o Jornal da Manchete Edição da Tarde, entravam no ar duas horas antes dos jogos do Brasil, e contavam com a presença da estrela da programação naquele período, a atriz Cristiana Oliveira, a Juma de Pantanal. Também teve Dercy Gonçalves, Patricia Amorim, Hortência, Ângela Leal (Maria Bruaca, em Pantanal), Monique Evans, Luiza Brunet e Alcione.

Toque de Bola, Copa 90
Toque de Bola, Copa 90, Mesa redonda na Manchete

Os bastidores da cobertura, no entanto, registraram momentos de preocupação devido às condições de saúde de João Saldanha. O ex-técnico e comentarista não tinha condições para participar do evento, mas fez questão a ponto comprar com recursos próprios sua passagem aérea. Com enfisema pulmonar grave, acabou falecendo na Itália pouco antes do voo de volta ao Brasil.

Manchete fora do “tetra”

A emissora ficou de fora da Copa de 1994, justamente a única edição que o Brasil ganhou no período em que esteve no ar.

Apesar de ter assinado contrato com a OIT, a entidade que negociava os direitos do evento na América Latina, a Manchete atravessou sérios problemas financeiros durante os anos de 1992 e 1993. Na época, a rede foi parcialmente vendida, ficando por quase 1 ano sob gestão do Instituto Brasileiro de Formulários (IBF).

Sem condições para honrar os compromissos assumidos com a OIT, o novo sócio gestor da empresa deixou de pagar os direitos de transmissão da Copa do Mundo de 94 e também do Carnaval de 1993. Quando os Bloch retomaram o controle da emissora, em abril de 1993, já era tarde demais.

O curioso foi que a Manchete pôde transmitir as eliminatórias da Copa durante 1993, porque estes jogos já haviam sido completamente pagos quando a emissora mudou de mãos.

“Foi uma grande frustração ter ficado de fora das transmissões da Copa. Agora queremos retomar os grandes eventos esportivos”.

Osmar Gonçalves, 48, diretor-superintendente da rede

Copa do Mundo de 1998 na França

A Manchete investiu na sua última tranmissão do evento, na expectativa de repetir o bom resultado financeiro atingido nas Olimpíadas de 96.

Vinhetas da Copa de 1998

Paulo Stein, como sempre, comandava as transmissões e apresentava boletins, jornais, mesas redondas, sorteios de automóveis e narrava os jogos principais. Para os jogos secundários, foram escalados os narradores Januário de Oliveira (veterano, vindo da Bandeirantes), Edson Mauro (muito conhecido do rádio carioca), Cledi Oliveira e Carlos Borges. Marcio Guedes já tinha deixado a Manchete rumo à Record em 1995.

A equipe tinha até o técnico

O então técnico da seleção, Zagallo, participou ativamente da cobertura, no “Bate Bola com Zagallo“, uma mesa redonda levada ao ar nas noites de domingo onde o técnico respondia a perguntas dos telespectadores e defendia suas estratégias.

Como comentaristas das partidas e mesas redondas na Manchete participaram Milton Neves(estreando na cobertura do evento), Washington Rodrigues, Renato Gaúcho, Paulo Autuori, Valdir Espinoza, Edinho e o veterano Armando Marques. Alberto Leo era o diretor de esportes na época.

Lucia Abreu atuou como apresentadora, junto com José Ilan e Ana Paula Rocha, que também faziam reportagens. Solange Bastos atuou exclusivamente como repórter. Marcia Peltier, repetindo o pioneirismo das Olimpíadas de 1996, apresentou o Jornal da Manchete diretamente da França durante todo o evento.

Muita expectativa, pouca tradição

A emissora apostou alto, dando à edição de 1998 a mesma grandeza que a consagrou nas Copas de do México e da Itália. Levou 90 profissionais para a França. Chegava a mostrar 17 horas por dia sobre o evento.

Mas, diferentemente das ocasiões anteriores, o canal não tinha mais um público futebolístico com hábito de sintonizar na Manchete. Desde 1994, quando transmitiu o Campeonato Carioca, a Copa do Brasil e o Campeonato Italiano, a emissora só voltaria e mostrar jogos de futebol durante as Olimpíadas de 96, além da final da UEFA Champions League no inicio de 1998.

Logo da mesa-redonda pré-copa e programa diário durante o evento, com Zagallo
Logo da mesa-redonda pré-copa e programa diário durante o evento, com Zagallo

Sem público cativo de futebol por quatro anos, a Manchete estava numa situação totalmente aquém das quatro concorrentes. E para piorar ainda mais o cenário, aquele ano foi récorde em emissoras brasileiras transmitindo o evento: cinco, uma a mais que em 1986.Ou seja,a Manchete teria uma rival a mais, e ainda por cima não tinha mais tradição em futebol.

As concorrentes, Record, Band e SBT, além da Globo, vinham preparando seus públicos e equipes para atingirem boas audiências na Copa do Mundo da França. As emissoras, desde anos antes, tomaram algumas atitudes:

  • Globo e Band eram parceiras nas transmissões do Brasileirão e alguns estaduais. Estavam sempre preparadas para as Copas, com os narradores mais conhecidos (Galvão Bueno e Luciano do Vale), além de repórteres e comentaristas experientes.
  • O SBT começou a investir pesado na categoria em 1995, quando começou a transmitir, com exclusividade, a Copa do Brasil (ex-Manchete). Também exibia a Formula Indy, ajudando a formar uma equipe esportiva reconhecida pelo público (sob a liderança de Silvio Luiz). E ainda dividiu com Globo e Band o Paulista de 98.
  • A Record voltava à Copa depois de longos doze anos, mas também fez um bom dever de casa como preparação: a partir de 1995, começou a transmitir os campeonatos Italiano(retirado da Manchete), Espanhol, Alemão, Paulistas e Cariocas, além das Olimpíadas de 1996. Para os jogos olímpicos, inclusive, “tomou” estrelas do SBT e da Manchete. Da Manchete, levou seus titulares: Paulo Stein e Marcio Guedes. Stein acabou retornando à Manchete em 1997.
Copa do Mundo 1998
Copa do Mundo 1998

Gol contra

Resultado: a Manchete foi a última colocada em audiência. Nos quatro jogos iniciais da seleção brasileira, por exemplo, a Globo liderou com mais de 50 pontos, seguida pela Band(6), SBT(5) e Record (4). A Manchete amargou a quarta posição isolada, com média de UM ponto!

O evento deu prejuízo importante, e não conseguiu compensar parte das perdas de receita que o canal vinha registrando desde 1997. Na verdade, aumentou ainda mais o prejuízo, a ponto da Copa ser considerada uma das duas causas para a sucessão de greves que derrubaram de vez a Manchete.

A outra “vilã” dessa história foi a novela Brida, que estreou logo após o fim da Copa e também não decolou.