Pra sempre no ar

Sou bacharel em Ciência da Computação e pós-graduado em Gestão de Negócios pelo Ibmec. Quando me formei, em 2003, a Manchete não existia mais. Mas entrei na indústria da televisão ainda na faculdade, em 2002, quando comecei a fazer estágio na área de Internet da Globosat. Lá participei da criação de produtos de straming pioneiros como Telecine Play e Globosat Play. Anos depois passei a atuar como Product Manager no Globoplay.

Cresci assistindo à Globo e Manchete. Esta última por apresentar, na virada das décadas de 80 e 90, a melhor fase de sua trajetória, tendo grande repercussão em todo o país. Além disso, suas imagens eram perfeitas, as únicas seguramente sem chuviscos, independente das condições meteorológicas.

Mais que pelos sucessos e pela qualidade de imagem, claro, também contava o fato da Manchete ser carioca e ter a cara da cidade. Lembro que já percebia como o conteúdo parecia melhor acabado, as vinhetas mais bacanas, as trilhas sonoras agradáveis. A torcida para que ela voltasse aos dias de glória posteriormente e evitasse a escalada popularesca das TVs paulistanas, foi natural.

Site nasceu no século passado

Em 1999 tive a idéia de criar um site que realmente tivesse algum conteúdo (frente ao modismo dos sites pessoais, que não ofereciam informações úteis). Tendo em vista o meu interesse por comunicação, especialmente TV, e aproveitando o então recente episódio da extinção da TV Manchete, não hesitei em escolher esse como o tema daquilo que seria o primeiro site que criei. E assim lancei o site “Rede Manchete, Uma História de Sucesso” em setembro daquele ano.

Imagem de da Rede Manchete
A primeira versão do site, em 1999

Portal da Manchete

Ao longo do tempo, depois de perceber a repercussão e o interesse das pessoas pelo tema (e ter a minha caixa de e-mails inundada com materiais para publicação), resolvi refazer o site tendo então como principal característica a colaboração do internauta. Desta forma, todos aqueles que antes se dispunham a contribuir enviando e-mails com textos, fotos e vídeos, teriam a partir de então como fazê-lo da forma mais fácil e direta possível. Nessa época eu era um dos desenvolvedores dos sites dos canais Globosat, e portanto, já tinha conhecimento técnico suficiente pra levar este projeto adiante.

Assim sendo, a partir de fevereiro de 2005 o site se tornou o Portal da Manchete (portaldamanchete.com), e assim eu deixaria de ser o único autor do site, passando a oferecer a todos a possibilidade de publicarem textos, fotos e vídeos. A estratégia de descentralização provocou rapidamente o aumento considerável do acervo e, por conseqüência, dos acessos. Nesta época, meus vídeos ficavam hospedados no próprio site, e algumas vezes tive que aumentar o limite de tráfego de dados, pois o Youtube ainda era desconhecido. Aliás, é bem possível que este site tenha sido o primeiro colaborativo de vídeos do país, dado que o Youtube surgiria em abril daquele ano.

Redemanchete.net

Em 2006 nova modernização, para valorizar as imagens e dar peso ao conteúdo de áudio e vídeo, enriquecido com a ajuda de internautas. A partir daí o site passou a responder pelo endereço redemanchete.net

Imagem 1 de da Rede Manchete
Versao de 2006, quando passou a ser acessado pela url redemanchete.net

Em 2011, uma nova modernização visual e de experiência, e a re-estruturação do conteúdo por programas. Também entrou a “história ano a ano”. Os vídeos do youtube passaram a ser alimentados por uma automação que “puxava” de lá aqueles que contivessem palavras-chave relacionadas a cada programa. Este visual seria o que mais tempo esteve no ar. Sofreu pequenas mudanças, mas nunca profundas, e por isso não foi otimizado para privilegiar a leitura nos smartphones.

Manchete.org

No ano que a TV completa 70 anos, quito este débito, ao refazer o site sobre uma nova plataforma, e finalmente ficando responsivo (se adequa ao tamanho da tela do usuário). O primeiro trabalho foi customizar o layout e colocar o conteúdo na nova plataforma, mas aos poucos pretendo reestruturar e melhorar alguns componentes para usar toda potencialidade do novo ambiente.

Outra mudança foi passar a usar o domínio manchete.org, mais curto e alinhado à finalidade não lucrativa deste projeto.

Mas por que continuar ?

Em 2009 deixei de ser programador e migrei para a gestão de projetos e produtos digitais. Continuei, portanto, com o desenvolvimento de sites, apps de celular e TV, mas não mais “metia a mão na massa”. Por isso meu conhecimento técnico não acompanhou as melhores práticas, e deixou de ser simples manter o site atualizado tecnologicamente. Este foi um dos motivos pelos quais ficou tantos anos não otimizado para consumo em aparelhos menores.

Por outro lado nunca cogitei encerrá-lo, apesar de, hoje em dia, já haver muito mais conteúdo da emissora na internet. Um dos motivos foi por ter recebido muito reconhecimento por este trabalho, além do fato grave de os arquivos da emissora nunca terem sido recuperados (sequer há informações concretas sobre seu paradeiro).

Ao longo dos anos conheci muitos ex-funcionários, inclusive famosos como Leila Cordeiro e Eliakim Araujo. Em 2003 o casal esteve no Brasil e me emprestou suas fitas VHS pra que eu as copiasse. Também conheci muitos outros que me escreveram nos primeiros anos, de todas as áreas: técnicos, jornalistas, o locutor oficial Eloy De Carlo, e ex-apresentadores. Renato Chappot, Andre Auler, Luiz Santoro, Paulo Newton, Adolpho Paiva, Leia Campos, Raquel Boechat, Maria Ines Herzog, Athur Ankerkrone e Silvia Lafond são só alguns daqueles com quem tive a oportunidade de conversar ao longo dos anos. Durante os encontros que promoveram em 2011 e 2018 muitos agradeceram o fato do trabalho realizado por eles estar de alguma forma preservado na internet. Em todos há unanimidade na constatação de terem tido lá o período mais feliz de suas vidas profissionais.

Também vejo até hoje pela internet trechos inteiros extraídos do site e muitos vídeos que capturei das minhas fitas VHS replicados no youtube. Em 2006, quando o SBT re-exibiu Xica da Silva, o canal publicou na página da novela em seu site exatamente o texto “Visão geral de Xica da Silva“, que publiquei neste site ainda em 99.

Dessa forma, ainda acredito que manter essa história viva tem importância, emociona as pessoas, e compensa de alguma forma o total descaso do país com a cultura e com a preservação de sua memória.

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