1998: Crise acelera e greves param até Brida

Uma novela sem fim

No início de 1998, a economia do país já sentia impactos da recessão asiática iniciada no terceiro trimestre de 1997. Com situação financeira frágil, sem crédito na praça, obrigações em dólar, o fim do serviço 0900, e o fracasso das transmissões da Copa e da novela Brida, a Manchete chegaria ao fim do ano sem estrelas, sem programas e sem audiência.

Além disso, a novela Mandacaru registrava índices módicos, e os programas jornalísticos mostravam sinais de desgaste. Mas mesmo realizando queda de 50% no faturamento de 1997 em relação ao ano anterior e todo o pessimismo macroeconômico, a emissora anunciou novidades já no mês de março.

Jornal da Manchete volta às origens

A primeira aposta foi uma reformulação completa dos noticiários. O “Jornal da Manchete” foi renovado e passou a ter três edições ao longo do dia, conceito semelhante ao utilizado na década de 80. A redação também voltava ao cenário mas, desta vez, totalmente modernizada.

O “Jornal da Manchete Ed. da Tarde”, às 12h30, encampou a Manchete Esportiva, passando a ter uma hora de duração. Às 23h45, o JM Edição da Noite tomou o lugar do Manchete Verdade. Às 20h45 foi a vez do Jornal da Manchete, sem complementos, com o mesmo trio: Marcia Peltier, Carlos Chagas e Florestan Fernandes. As mudanças passaram a valer a partir de 27 de março.

Novidades o ano todo

Claudete Troiano era a nova cara do vespertino “Mulher de Hoje“, abandonado por Beth Russo em dezembro de 97. Dentro do programa, Celso Russomano estreou o quadro Pra Valer, aumentando o tempo de duração do feminino em meia hora.

Salomão Schwartzman substituiu seu “Momento Econômico” pelo “Frente a Frente“, com uma hora diária de entrevistas nos fins de noite.

No início de março, Magdalena Bonfigliolli estreou à frente do “Magdalena Manchete Verdade“, que deu bons resultados. A fórmula já vinha sendo explorada por Marcia Goldshimidt no SBT: convidados falavam sobre suas desavenças no palco, enquanto uma equipe de psicólogos tentava mediá-los.

A apresentadora, por sua vez, estimulava a participação da plateia, o que só esquentava ainda mais as discussões. Era um formato popular e em franco crescimento no país.

Chamada de estreia do Magdalena Manchete Verdade

Domingo reformulado

Aos domingos também houve uma grande novidade. Em parceria com a produtora independente TV Ômega, de propriedade de Amílcare Dalewwo, a Manchete substituiu o caça-níqueis “Domingo Milionário” pelo “Domingo Total“. Hélio Vargas assumiu a direção no lugar de Homero Salles. Otávio Mesquita, Virgínia Novick e Sérgio Malandro apresentavam os três quadros da atração.

Teve ótimos índices de audiência, principalmente durante o quadro no qual Otávio Mesquita acordava famosos. Sérgio Malandro também se destacou à frente da “Festa do Malandro”, que antes da Manchete vinha fazendo sucesso nas tardes de sábado da CNT.

Mesmo com essas bem-sucedidas estreias, as dívidas cresciam, o que sufocava a emissora.

Imagem 7 de Ano a ano da Rede Manchete
Vinheta da Copa da França – 1998

Em junho do mesmo ano, o salário dos funcionários atrasaram, o que era um péssimo sinal. As transmissões da Copa do Mundo de 98 não renderam os lucros esperados. A Manchete teve a pior audiência dentre as cinco emissoras abertas que transmitiram o evento. A Copa deu prejuízo significativo.

Sem milagre

Imagem 9 de Ano a ano da Rede Manchete
1998: Bruxa à solta

Em agosto entrava no ar a novela Brida, baseada na obra sucesso de vendas de Paulo Coelho. A magia do autor parece, porém, não ter funcionado com a novela. A baixa audiência (dois pontos de média) provocou a troca do autor para esquentar a novela. A novela chegou a ser exibida em dois horários, às 19h e às 22h durante algumas semanas de agosto.

Mesmo com todo o esforço, Brida fracassou. O atraso nos pagamentos levou os atores a aderirem à greve dos funcionários da emissora. Sem saída, a novela foi retirada do ar no terceiro mês de exibição, por falta de capítulos para levar ao ar. O final da história foi narrado pelo locutor oficial da emissora, Eloy De Carlo, ilustrado com imagens de acervo da novela.

Naquele mesmo dia, chamadas anunciando a reprise de Pantanal começaram a ser veiculadas. Brida foi interrompida em 26 de outubro, dando lugar à re-estreia de Pantanal já na segunda-feira seguinte.

Debandada

Sem garantias, vários profissionais valiosos saíram da casa. De uma só vez debandavam Márcia Peltier, Otávio Mesquita e Raul Gil. Raul levou de volta seu banquinho para a TV Record. Além disso, a Manchete extinguiu o “Domingo Total“, o que provocou automaticamente a saída de Sérgio Malandro e Virgínia Novick. As tardes de domingo passaram a exibir uma seção tripla de filmes: o “Festival Manchete de Cinema“.

As produções dos jornalísticos da linha semanal de shows também pararam, e os programas passaram a exibir reprises. O mesmo aconteceu com o musical “Mexe Brasil“, apresentado por Marcelo Augusto.

A partir de 26 de outubro, o Jornal da Manchete perdeu meia hora de duração. Carlos Chagas estreou um “tapa buraco” na programação, o Se Liga Brasil, diariamente após a novela. Nos outros horários, uma chuva de televendas e religiosos inundou a programação.

Em dezembro, o lucrativo Mulher de Hoje também parou. Logo depois foi a vez do Jornal da Manchete também deixar de ser exibido devido à greve geral, algo que nunca tinha acontecido na história do canal.

Por Diogo Montano

Diogo Montano é Bacharéu em Ciência da Computação, pós graduado em Gestão de Negócios, e trabalha há quase vinte anos unindo duas coisas que sempre gostou: comunicação e tecnologia. Cresceu assistindo à Globo e Manchete, canais de tv que tinham as melhores imagens da região. Em 1999, ainda antes de entrar na faculdade, publicou a primeira versão deste site, logo após a venda da Manchete.