Em dezembro de 91 entrou no ar a superprodução Amazônia. Dirigida pela mesma equipe de Pantanal, liderada por Jayme Morjardim e boa parte do elenco do grande sucesso da Manchete, Amazônia tinha a óbvia expectativa de repetir o êxito da história pantaneira.
Porém, antes mesmo da estreia, Jayme Monjardim deixou a Manchete. Roberto Naar, Marcelo de Barreto e Carlos Magalhães, seus braços direitos de sempre, portanto co-responsáveis por Pantanal, no entanto, assumiram a liderança do projeto.
Chamada de estreia de Amazônia
Mas a trama era confusa, derrubando rapidamente os 10 pontos da estreia para apenas dois. Para tentar recuperar parte daquele investimento, a emissora resolveu lançar uma nova novela com os mesmos cenários, cidade cenografica, figurinos e elenco.
Tizuka Yamazaki foi a escolhida para o desafio. A veterana, que assinara o sucesso Kananga do Japão, apostou no feijão com arroz de sempre, numa nova história, nova abertura e um novo logotipo: Amazônia Parte II. Uma novela dentro de outra.
A audiencia até esboçou reação, chegando a sete pontos. Mas aos poucos a novela foi sofrendo com o desmonte da emissora que, durante aqueles meses, ganharia um novo dono e deixaria de ser carioca, passando a ser gerada a partir das instalações de São Paulo.
O fracasso inicial da novela, no entanto, foi uma pá de cal sobre oi quadro financeiro insustentável, determinando a decisão de vender a rede.
Nova revista feminina
O Almanaque, programa ao vivo (diariamente das 18h30 às 15h30) que inaugurou o estúdio paulista da Manchete, ocupou novamente o papel de programa para a mulher, preenchendo uma lacuna existente desde o fim da franquia “Mulher” (Jornal Mulher, Mulher 90, Mulher 88 e Mulher 87). “Almanaque” era mais sortido tematicamente, falando também sobre cultura, por exemplo.
Tinha Jussara Freire na culinária e Wilson Cunha com as novidades do cinema. E também tinha plateia, algo que não havia nas atrações anteriores. O programa ganharia ainda mais tempo de grade quando a Manchete foi transferida para as mãos da IBF.
Planos não concretizados
Mesmo com um cenário que já apontava para a venda da emissora, uma nova programação estreou na segunda quinzena de abril, assinada pelo diretor artístico da emissora, Nilton Travesso.
- O jornalístico mensal Nosso Tempo passaria a ser semanal.
- Cesar Filho apresentaria um programa de variedades noturno, acumulando com o Almanaque diário.
- Clodovil discutia bases contratuais para voltar à emissora com um talk-show nas noites de segunda-feira.
- O Caipira, projeto de novela de Chico de Assis com Juca de Oliveira no papel principal, ocuparia o horário das 19h30.
- Nas tardes, uma novela americana antecederia o Programa Márcia Peltier.
- Como Serginho Groisman desistiu de levar o Programa Livre do SBT para a Manchete, Travesso cogitou outro projeto para os adolescentes, apresentado pelo ator Cassiano Ricardo (ex-Enigma, da TV Cultura). Também não rolou.
- Agildo Ribeiro começaria a produção de um programa diário para os fins de noite assim que voltasse de Portugal. O mix de show e entrevista seria gravado em volta da piscina de mármore do prédio da Manchete no Rio, simulando uma interminável festa. Durante uma hora, Agildo circularia entre convidados famosos, faria entrevistas e mostraria seus dotes de showman, a pretexto de astro contratado para atração dessa festa fictícia.
- Quando Amazônia Parte II chegasse ao fim, a intenção era colocar no lugar uma novela de época inspirada em O Crime do Padre Amaro, de Eça de Queiroz. Faltava ainda achar um autor, pois Walter Negrão, escolhido para a tarefa, só ficou na Manchete por 24 horas. Acertou seu contrato com Nilton Travesso, mas assim como Groisman, preferiu ficar onde estava.
Debandada
Em maio, Nelson Hoinnef aceitou proposta do SBT e levou o Documento Especial Televisão Verdade para a TV de Silvio Santos. A Manchete lançou uma versão genérica, idêntica: “Manchete Especial, Documento Verdade”. Apresentado por Henrique Martins, dirigido por Adir Ribeiro e abertura e logotipos semelhantes.
Atolado em dívidas e abatido por movimentos grevistas no Rio e em São Paulo, Adolpho Bloch confirma a decisão de vender a rede. Em junho, o empresário Hamilton Lucas de Oliveira, dono do Grupo IBF, acertou a compra de, inicialmente, 49% das emissoras de TV e rádio do grupo Bloch, por 125 milhões de dólares, o mesmo valor da dívida da empresa.
Estrelas e público fogem durante gestão do grupo IBF
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A IBF era a empresa que imprimia bilhetes de raspadinhas para a Caixa, e também talões para o BB durante o governo Collor. Em um mês, demitiram mais de 650 funcionários, os principais departamentos da para São Paulo, inclusive produções de programas como o Clube da Criança.
O sindicato dos radialistas manifestou preocupação com a transferência da matriz para a capital paulista, e a consequente vacância dos postos de trabalho do Rio. David Raw foi contratado para ser o diretor-geral da emissora.
Ainda em junho, Amazônia chegou ao fim, e em seu lugar foi reprisada a minissérie “As Aventuras Amorosas do Seu Quequé”, produzida pela TV Cultura 10 anos antes! O departamento de dramaturgia da Manchete foi praticamente extinto.
A nova empresa anunciou poucas novidades, entre elas a volta do costureiro Clodovil, para comandar um talk-show noturno, que obteve bons índices de audiência. Mas ainda assim, o programa sofreu, pois em muitos dias não havia fitas para as gravações.
Uma divisão clara se formou entre as emissoras do Rio de Janeiro e de São Paulo. O grupo que agora controlaria a emissora temia que a qualquer momento a geradora do Rio retirasse a emissora do ar, ainda por conta dos muitos atrasos de salários e acordos descumpridos com os novos donos. Uma situação bizarra tomou conta da empresa, que ainda ocupava o prédio da Bloch Editores na capital carioca.
Em dezembro, Leila Cordeiro e Eliakim Araújo deixam a Manchete rumo ao SBT.
Falta de classe
O ano de 1992 foi marcado pelo fim de programas importantes, demissões em massa, greves, e até a explosão de uma bomba caseira no prédio da Bloch Editores.
Pouco antes da venda da emissora, Adolpho Bloch caminhou até a rua, em frente ao pre’dio da Manchete e, aos prantos, suplicou que os grevistas ali concentrados retornassem a seus postos de trabalho.
Em outra ocasião, poucos meses depois, o empresário fechou a rua do Russel com caminhões para evitar que o grupo IBF levasse equipamentos da sede carioca para São Paulo.