Vinheta Manchete Logo 1994

1994: aposta em independentes e enlatados

Foco em programas com bom potencial de faturamento e baixos custos são a tônica de 1994. A audiência ainda não era o principal objetivo. A exclusiva Copa do Brasil e a boa surpresa “Cavaleiros do Zodíaco” garantiram bons índices de audiência.

O primeiro ano de gestão 100% Bloch após a retomada começaria com forte controle de gastos e aposta em programas de baixo custo, mas com potencial comercial. O objetivo era ganhar dinheiro, evitar loucuras e ajudar a reconquistar credibilidade. A emissora voltou a se posicionar como na época de sua estreia: uma TV de qualidade.

Vinheta Manchete Logo 1994
Vinheta Manchete Logo 1994

Qualidade em primeiro lugar!

slogan da emissora em 1994: volta no tempo.

Novidades da Programação 1994

Novela independente

Apesar de não contar com orçamento para a produção de novelas no ano, a Manchete manteve a tradição de oferecer ao público uma novela inédita. Graças a um arranjo inovador para a época, lançou 74.5 Uma Onda no Ar, produzida pela TV Plus.

Protagonizada por Letícia Sabatella e Ângelo Antônio, e gravada em Búzios,  foi a segunda novela feita por uma produtora independente no país. A audiência foi de cerca de 5 pontos, que não era ruim para uma novela de baixos custos. Sofreu duas trocas de horário devido à Copa do Mundo, e trocas de autores e diretores durante o desenrolar da trama.

Às 19hs, ainda em 94, com o fim de “74.5”, estreou a produção argentina “Além do Horizonte“. Os resultados iniciais foram acima do esperado: a novela registrou audiência de 5 pontos.

A série “Incrível, Fantástico, Extraordinário“, outra obra dramatúrgica inédita naquele ano, foi a única produção dos setor gravada pela própria emissora. O seriado era exibido semanalmente, às quartas, com episódios autocontidos (as histórias não eram interligadas entre episódios). A cada semana era contada uma história diferente, mas mantendo o suspense como “pano de fundo”.

Câmera Manchete

Logo do Câmera Manche em 1994/95te
Logo do Câmera Manche em 1994/95te

Em setembro de 1994, estreou o Câmera Manchete, um jornalístico semanal de grandes reportagens, cujo estilo faltava na grade da emissora desde a extinção do Documento Verdade, no início do ano anterior. Ronaldo Rosas foi escolhido para apresentá-lo. O programa mostrava três reportagens, de temas distintos. Era exibido às quartas-feiras, logo após o Jornal da Manchete.

Heróis da audiência

Mesmo sem grandes pretensões em audiência em 1994, o anime Cavaleiros do Zodíaco” surpreendeu, se tornando rapidamente a nova mania nacional de crianças e adolescentes. Logo no primeiro mês dobrou a audiência em São Paulo, de 3 para 7 pontos. Chegou a médias de 14 pontos em cada uma de suas duas exibições diárias em capitais como o Rio de Janeiro.

O anime adiantou o processo de repopularização da Manchete, que aconteceria mais fortemente a partir do ano seguinte. A série ia ao ar pela manhã, dentro do Dudalegria, por volta das 10h15. Era reprisada à tarde, dentro do Clube da Criança.

O Clube da Criança, antes mesmo da estreia dos Cavaleiros em setembro, já contava com nova apresentadora. Saiu Milla Christie e entrou Patrícia Nogueira, ex Miss Brasil.

A Grande Jogada

A Manchete exibiu com exclusividade a Fórmula Indy e a Copa do Brasil. Criou a faixa “A Grande Jogada” aos sábados e domingos, com programas e eventos esportivos.

A TV Sport era a produtora responsável pelas transmissões esportivas, exibindo campeonatos de futebol estrangeiros como o Campeonato Italiano, seções de luta livre, boxe, telecatch,  Fórmula 3, Fórmula DTM, além da Copa do Brasil e Indy. 

A maioria das transmissões eram narradas por Osmar Santos e Oscar Ulysses, com comentários de Silvio Lancelotti, todos contratados pela TV Sport. A dupla Paulo Stein e Marcio Guedes – da Manchete/RJ – entravam no rodízio nos jogos da Copa do Brasil.

A faixa, que claramente fazia frente Show do Esporte, da Band, ressuscitou o lendário Canal 100, cine documentário que nas décadas de 60 e 70 eram exibidos nas salas de cinema antes do início dos filmes. O Canal 100, dentro de A Grande Jogada, foi o primeiro programa de TV apresentado por Milton Neves.

Mais atrações

À tarde, Anna Bentes Bloch literalmente “colocava a mão na massa”. A então esposa de Adolpho Bloch estreou à frente de “Os Médicos“, um programa de entrevistas com especialistas em saúde e profissionais da medicina. Os convidados esclareciam dúvidas dos telespectadores, que participavam por fax e telefone. Foi um spin-off do Bate Boca, que Solange Bastos apresentava desde o ano anterior, passando a sucedê-lo diariamente, das 14h30 às 15h30.

Nessa mesma época, de segunda à sexta após o Jornal da Manchete, a emissora exibia uma sessão de cinema por dia, o Cine Manchete, quando não havia jogos da Copa do Brasil nem do Campeonato Paulista: Primeira Classe(seg), Sessão Faroeste/Terça Especial(ter), Sala Vip(qua), Sessão Extra(qui) e Cine Suspense/Sexta Máxima(filmes picantes)(sex). Sem títulos inéditos, as sessões traziam filmes para todos os gostos e premiadas produções do cinema mundial.

Pelo fato do grupo IBF não ter pago as parcelas dos direitos de transmissão, a emissora deixou de exibir a Copa do Mundo de Futebol, mas garantiu o Desfile das Escolas de Samba do Rio.

Fazendo caixa

A produtora Telemil invadiu a tela da emissora com atrações que tinham como finalidade vender produtos milagrosos. Via compra de horário, foram lançados dois programas femininos que na realidade eram grandes propagandas disfarçadas: o Momento Mulher, diariamente às 11h; e Papo Sério, teoricamente um programa de entrevistas apresentado por Lolita Rodrigues, às 16h. Ambos tinham uma hora de duração cada, e eram praticamente um programa de televendas intercalado com algum conteúdo.

Logo do Momento Mulher, 1994/95
Logo do Momento Mulher, 1994/95

Programas de entrevistas, que custavam pouco, mas traziam prestígio e patrocínios, também foram a tônica do ano, como Dose Dupla, de Bob Coutinho, ou Jogo do Poder e Gente de Expressão. Mas o faturamento e a confiança do mercado de anunciantes só se consolidariam a partir do ano seguinte.

Além disso, a direção da emissora estava convencida que uma superprodução na dramaturgia era o caminho para reconquistar prestígio, faturamento e levantar a grade. Por isso começou a conceber a adaptação para a TV de “Tocaia Grande”, livro escrito por Jorge Amado. Acreditava-se que, com essa história, a Manchete reconquistaria seu lugar de destaque na TV.

Por Diogo Montano

Diogo Montano é Bacharéu em Ciência da Computação, pós graduado em Gestão de Negócios, e trabalha há quase vinte anos unindo duas coisas que sempre gostou: comunicação e tecnologia. Cresceu assistindo à Globo e Manchete, canais de tv que tinham as melhores imagens da região. Em 1999, ainda antes de entrar na faculdade, publicou a primeira versão deste site, logo após a venda da Manchete.