1987: Esquenta a produção de novelas e Angélica assume o ‘Clube’

José Wilker assume a dramaturgia e leva ainda mais globais. Angélica se destaca e reestreia o Clube da Criança.

José Wilker assume a dramaturgia, traz ainda mais profissionais da Globo e cria um novo horário inédito de novelas. Corpo Santo faz sucesso, mas Carmem tem problemas de aceitação, e Helena sofre por competir com o JN. Angélica surpreende no lugar de Simony, e incentiva a emissora relançar o Clube da Criança, sob seu comando. Programas da linha de shows são extintos e boatos na imprensa falam sobre a possível venda da emissora.

Duelo na avenida

Em 1987, as transmissões do carnaval vieram cheias de novidades. A emissora do Rússel colocou mil funcionários no sambódromo para a cobertura dos desfiles da Escolas de Samba. O duelo entre as Redes Manchete e Globo veio estampado na passarela do samba: um confronto de logotipos marcava a entrada do sambódromo durante as transmissões dos desfiles do Grupo Especial do Rio.

Dentre as novidades, a emissora dos Blochs trazia a câmera-robô, além de um helicóptero que sobrevoava o sambódromo do Rio de Janeiro. Rubens Furtado dizia que o Carnaval era a chance que a Manchete tinha de mostrar que era melhor que a Globo.

José Wilker assume a dramaturgia

Em março José Wilker, que assume a direção de dramaturgia – em substituição a Herval Rossano – e estréia sua primeira novela: Corpo Santo. A obra tinha um formato inovador: uma novela-reportagem, que se propunha a misturar ficção e realidade.

Corpo Santo era recheada de cenas de violência, e graças ao carisma de Wilker, teve um elenco global: Maitê Proença, Christiane Torloni, Jonas Bloch, Lídia Brondi e Reginaldo Faria. A novela estreou com 14 pontos de audiência e chegou a médias de 31 pontos (durante a morte da personagem de Torloni). Em cidades como Salvador, manteve média de 30 pontos.

Durante o restante do ano, o diretor trouxe uma série de profissionais de peso da dramaturgia brasileira para a emissora, lançando três outros produtos do gênero: um novo horário com novela inédita, uma minissérie, e a substituta de Corpo Santo.

Em maio estreou Helena, novela de época, na faixa das 19h45. Escrita por Mario Prata, com Luciana Braga e Thales Pan Chacon nos papéis principais. Elogiada pelo detalhismo, bateu de frente com o Jornal Nacional e formou um sanduíche de novela-jornal-novela tal qual a Globo. Caprichada, porém com a dura missão de enfrentar o informativo global, não atingiu os dois dígitos.

Ao contrário, Corpo Santo foi, além de elogiada, um sucesso de audiência. Médias perto dos vinte pontos, e batendo trinta em capítulos decisivos, trouxe uma narrativa inovadora e derramou a realidade do dia-a-dia no gênero folhetinesco. Não foi nada barata, teve cenas gravadas em Los Angeles, mas teve retorno.

Já sua sucessora, Carmem, ganhou não um, mas dois cheques em branco, custando bem mais que Corpo Santo. Com protagonista e escritora globais, tratou de temas considerados “pesados” pela sociedade brasileira à época. Teve que ser ajustada, e reagiu no ano seguinte, mas decepcionou nos primeiros meses, e, junto com o prejuízo de Helena, levou a emissora a rever seus custos.

Homossexualidade, magia negra, espiritismo e HIV: a polêmica Carmem, de Gloria Perez

Em outubro, em substituição a Corpo Santo, estreou Carmem, escrita por Glória Perez e estrelada por Lucélia Santos, trazidas da TV Globo a peso de ouro como grandes estrelas, e ainda Paulo Betti. A trama chegou a ter 31 pontos de audiência no Rio de Janeiro, desbancando a TV Globo em alguns capítulos. Trouxe temas latentes mas praticamente sem voz na TV, como homossexualidade, magia negra, espiritismo, e principalmente, a AIDS. Causou polêmica.

Imagem de Ano a ano da Rede Manchete

Além das novelas, a emissora lançaria, no segundo semestre, a minissérie A Rainha da Vida, com 15 capítulos.

Angélica conquista a Manchete

Em abril, Simony assinou contrato com o SBT e deixou a Manchete. “A Nave da Fantasia” passou então a ser apresentada por Angélica, que poucos meses antes havia ingressado no programa e já dividia a apresentação do matinal. O desempenho como nova titular da atração agradou, e a direção decidiu relançar o Clube da Criança com a adolescente. Angélica tinha apenas treze anos de idade, e cursava a sétima série do primeiro grau. Com a volta do ‘Clube’, o “Lupu Limpim Clapá Topô” foi extinto.

Angelica no alto do prédio da Manchete, no Rio
Angelica no alto do prédio da Manchete, no Rio

Outros programas produzidos em parceria com Nilton Travesso e a produtora independente “Equipe A” também foram lançados: Mulher 87, Vídeo em Manchete (uma espécie de Vídeo Show), e Osmar Santos Show. Este último, trazia o querido locutor esportivo, bastante admirado peoo público, para o desafio de comandar um programa de variedades nas noites de sábado. O programa entrou no ar em 12 de dezembro, mas durou pouco mais de sete meses.

Manchete News

Nas manhãs, o “Repórter Manchete” entrava no ar, diariamente às 8h. Com um formato semelhante aos canais americanos de hot news (CNN), exibia notícias o tempo todo, direto da bancada. O objetivo era aproveitar a frequência da TV Manchete no Rio, Recife e Brasília(canal 6), que podia ser sintonizada através de receptores de rádio FM. Muitos cariocas ouviam o telejornal indo para o trabalho. O jornal economizava imagens, adotando de fato uma linguagem radiofônica.

Imagem 4 de Ano a ano da Rede Manchete

Apertando os cintos

Em junho de 87, a situação financeira voltou a preocupar. Alguns dos programas da linha de shows que estrearam entre 85 e 86, apesar de custarem caro, não davam audiência/retorno financeiro. Nave da Fantasia, Um Toque de Classe e Miele & Cia foram extintos, e não foi aprovada outra novela inédita para suceder Helena na faixa das 19h45. Foram demitidos 100 funcionários, e a pré-produção de Olho por Olho, substituta de Carmem, foi adiada.

No horário de Um Toque de Classe, às quartas, passaram a ser reexibidos episódios do Bar Academia, extinto em 1986. Miele foi substituído por séries às segundas, assim como o antigo horário de Costinha às sextas. Com o fim de Helena, entrou a reprise de Tudo em Cima.

Outro programa que sofreu ajustes foi o de Costinha. Apesar de dar audiência, emissora não estava feliz com a qualidade do programa, e decidiu retirá-lo das noites de sexta. O humorístico foi para as tardes de domingo, sob o título Domingo de Graça (que chegou a co-existir com Aperte o Cinto por poucos meses, como estratégia para testar a aceitação da audiência no novo horário).

Em agosto, Adolpho Bloch declarou a intenção de vender as emissoras, mas o Ministério das Comunicações o alertou que isso iria contra a legislação. A Lei vedava a venda de uma estação de rádio ou TV nos cinco primeiros anos de funcionamento. No caso da Manchete, isso só seria possível a partir do ano seguinte. Bloch voltou atrás.

Afiliadas

Em 1987, a Rede Manchete de Televisão cresceu ainda mais, agregando as seguintes emissoras:

  • TV Metrópole, cobrindo Campinas e Região, a partir de fevereiro;
  • TV MS, em Campo Grande, atingindo toda a região metropolitana do Mato Grosso do Sul;
  • TV Equatorial, no Amapá; e
  • Na Bahia, houve uma troca: a TV Aratu passou a ser a afiliada da rede na região metropolitana de Salvador, depois que a TV Bahia assinou contrato para integrar a Rede Globo.
Imagem 6 de Ano a ano da Rede Manchete
Emissoras da Rede Manchete em 1987

Por Diogo Montano

Diogo Montano é Bacharéu em Ciência da Computação, pós graduado em Gestão de Negócios, e trabalha há quase vinte anos unindo duas coisas que sempre gostou: comunicação e tecnologia. Cresceu assistindo à Globo e Manchete, canais de tv que tinham as melhores imagens da região. Em 1999, ainda antes de entrar na faculdade, publicou a primeira versão deste site, logo após a venda da Manchete.