1991: Ana Raio faz sucesso, mas dinheiro acaba

Deslumbrada com o fenômeno Pantanal, a Manchete entra pelo ano a bordo de três carretas em comitiva pelo Brasil. Garante a vice, mas gasta mais do que fatura, e o Governo Collor endurece negociações do canal com o Banco do Brasil, para forçar a venda da Manchete a algum dos seus aliados.

Prestigiado e motivado pelo sucesso de Pantanal, Jayme Monjardim dobrou suas aspostas e idealizou uma história que abusaria do cenário natural brasileiro, da luz indireta, e da sinfonia de Marcus Viana em ritmo ‘contemplativo’. Marcos Caruso e Rita Buzzar foram convidados para para desenvolverem sua história central. A campanha de lançamento dava ares de superprodução cinematográfica, o que aumentou ainda mais as expectativas a respeito do desempenho da sucessora de Pantanal.

Rodando o Brasil

“A História de Ana Raio e Zé Trovão” estreou em dezembro de 1990, levando ao extremo os recursos narrativos de Pantanal. Com o propósito de “mostrar o Brasil que o Brasil não conhece”, a novela revelou o universo country do interior do país. Só terminou em outubro do ano seguinte, tendo percorrido 14 mil quilômetros pelo Brasil. Fez sucesso, mas custou 8 milhões de dólares, um valor elevado em relação ao seu faturamento.

“Ana Raio” não segurou os números altíssimos de Pantanal, mas garantiu média de 16 pontos em São Paulo, garantindo o segundo lugar isolado em sue horário de exibição. Na média de toda a programação, viu o SBT voltar a brigar pela vice-liderança no país e se isolar na posição na Grande São Paulo. Mas continuou sendo a segunda maior rede de TV do país isolada em faturamento.

Campanha de Lançamento de A História de Ana Raio e Zé Trovão

Dando continuidade às mini-séries, foram ao ar Filhos do Sol, Ilha das Bruxas, O Farol, Na Rede de Intrigas, Floradas na Serra e O Guarani. Esta última tendo sido protagonizada por Leonardo Brício e Angélica. Todas seguiram o mesmo conceito iniciado por Pantanal e perseguido por Ana Raio: explorar os cenários naturais do Brasil e predominância de cenas ‘externas’, regadas à semi-nudez de belas mulheres. Além disso, quase todas lançaram mão do misticismo, ou surrealismo, dos fenômenos paranormais, lendas brasileiras e até contatos extra-terrestres.

Cinema nacional

Foi lançada a faixa Cinema Nacional, apresentando uma vez por semana sucessos de bilheteria da nossa indústria. A atitude foi na contra-mão da política cultural do presidente Collor, que um ano antes havia extinguido não só o Ministério da Cultura, como também a produtora/distribuidora Embrafilmes, estatal que durante décadas fora responsável pela co-produção e lançamento de grandes sucessos nacionais.

Wilson Cunha nesta época era o responsável pelo departamento de filmes, séries e enlatados da emissora. Lançar uma janela para as poduções, portanto, foi uma estratégia para ao mesmo tempo que amortecia um pouco os efeitos daquelas medidas violentas, rendeu números expressivos durante a exibição dos títulos mais assanhados.

Noite Dia, apresentado por Renato Machado

Jornalismo ágil

Renato Machado foi contratado para apresentar o Noite Dia, substituindo o Jornal da Manchete 2a Edição, ao lado de Ronaldo Rosas e Paulo Markun. O plantão do Jornal da Manchete foi o primeiro a noticiar a Guerra do Golfo. Luiz Carlos Azenha ancorou a cobertura da guerra direto do Iraque. Ainda neste ano os telejornais foram novamente reformulados e o cenários histórico dos monitores do Jornal da Manchete foi abandonado, dando espaço para enormes tapadeiras azuis.

Imagem de Ano a ano da Rede Manchete

Velhos fantasmas

Em agosto de 91, foi noticiada a suposta venda da emissora para o empresário Paulo Octávio (deputado federal do PRN), amigo do presidente Fernando Collor, mas nada se concretizou. Enquanto isso, as dívidas com o Banco do Brasil e o Bradesco só cresciam. O faturamento, porém, não repete as cifras do ano anterior (US$ 120 milhões), encerrando 1991 nos 90 milhões de dólares;

Após onze meses rodando o país, “Ana Raio e Zé Trovão” chega ao fim. Não causou a explosão de Pantanal, mas segurou o segundo lugar. Foi bem recebida por ter mostrado o Brasil dos caubóis, dos rodeios e das caravanas iluminadas, uma realidade pouco conhecida pelas grandes cidades. Pegou também carona no sucesso da música sertaneja, que se consolidava no país, reforçando o interesse do povo pela vida do interior.

Mesmo recheada de ações de merchandising e tendo colhido os frutos da antecessora (com planos comerciais bem valorizados), a novela custou muito caro. Para piorar, àquela altura já estava estabelecido o fracasso do Plano Collor, o que fez subirem os juros das dívidas da empresa, ao mesmo tempo que inibiu a iniciativa privada de realizar gastos em publicidade. A emissora começaria 1992 com perspectivas nada otimistas.

Pantanal II

O desejo de um novo sucesso como Pantanal ficava ainda maior, quase uma necessidade. Chegou-se a pensar na continuação da trama de Benedito Ruy Barbosa, mas o autor tinha assinado contrato para voltar à Globo. Traçando o paralelo óbvio, a Manchete encomendou a Denise Bandeira e Jorge Duran a sinopse de uma novela ambientada na Amazônia.

Casal protagonista da minissérie
Claudio Marzo e Carolina Ferraz em O Fantasma da Ópera

A pré-produção atrasou, obrigado a emissora a recorrer à minissérie O Fantasma da Ópera para substituir “Ana Raio” entre outubro e dezembro de 1991. Protagonizada por Claudio Marzo e Carolina Ferraz, a minissérie foi viabilizada a toque de caixa e teve 37 capítulos.

Em dezembro de 1991, finalmente Amazônia estreia. Uma péssima época para começar uma novela, pois há concorrência com eventos de fim-de-ano, horário de verão e férias escolares, fatores que retiram o telespectador da frente das telas, que é especialmente prejudicial para os primeiros capítulos porque é a fase onde o público ainda não tem engajamento com a história, mas é essencial para que o espectador e se apegue à história.

Por Diogo Montano

Diogo Montano é Bacharéu em Ciência da Computação, pós graduado em Gestão de Negócios, e trabalha há quase vinte anos unindo duas coisas que sempre gostou: comunicação e tecnologia. Cresceu assistindo à Globo e Manchete, canais de tv que tinham as melhores imagens da região. Em 1999, ainda antes de entrar na faculdade, publicou a primeira versão deste site, logo após a venda da Manchete.