Em 18 de julho de 1980, a Rede de emissoras dos Diários Associados foi cassada pelo Governo Federal após longo período de crises que levaram sete emissoras capitaneadas pela TV Tupi de São Paulo a um quadro com endividamento, equipamentos e programação sucateados, salários atrasados e funcionários em greve.
No mesmo dia, o Departamento de Telecomunicações do governo interditou os transmissores de sete emissoras: TV Tupi São Paulo, TV Tupi do Rio, TV Itacolomi (Belo Horizonte), TV Marajoara (Belém), TV Piratini (Porto Alegre), TV Clube (Recife) e TV Ceará (Fortaleza). As outras emissoras que compunham a então “Rede Tupi”, mas que não pertenciam ao grupo econômico, trataram de se filiar à TVS do Rio e à TV Record de São Paulo, mas mantendo independência comercial.
Dois meses após o fechamento da Tupi, o Governo do então presidente João Baptista Figueiredo, abriu uma nova concorrência pública para a operação os canais. Somou-se às sete emissoras da Tupi dois outros canais cassados dez anos antes, e ainda vagos: a TV Continental do Rio e a TV Excelsior de São Paulo.
Com nove canais, o governo lançou então editais para duas redes de televisão, das quais uma teria sede no Rio de Janeiro, e a outra em São Paulo. Ambas teriam emissoras nas duas metrópoles, e cada uma teria dois e três canais das capitais menores, assim:
Composições das novas redes
REDE A | REDE B |
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Rio de Janeiro: canal 6 (TV Tupi) Geradora | São Paulo: canal 4 (TV Tupi) Geradora |
São Paulo: canal 9 (TV Excelsior)* | Rio de Janeiro: canal 9 (TV Continental)* |
Belo Horizonte: canal 4 (TV Itacolomi) | Porto Alegre: canal 5 (TV Piratini) |
Recife: canal 6 (TV Clube) | Belém: canal 5 (TV Marajoara) |
Fortaleza: canal 2 (TV Ceará) | — |
Total: 5 canais, sendo 4 ex-Rede Tupi | Total: 4 canais, sendo 3 ex-Rede Tupi |
Grupos econômicos importantes se interessaram, como a Editora Abril, o Jornal do Brasil, Grupo Silvio Santos, Rádio Capital e a Bloch Editores. Bandeirantes e Record se posicionaram contra a divisão em duas redes, pois alegavam que as três existentes (Globo, Bandeirantes e Record/TVS) já saturavam a verba publicitária disponível. Mas o governo achava exatamente o oposto: que mais redes aumentariam a concorrência e forçariam uma melhor divisão dos investimentos no setor.
A disputa foi tão acirrada que o resultado demorou um ano para sair. A expectativa no mercado era a de que os contemplados viriam a ser o Grupo Abril e o Jornal do Brasil. Os privilegiados, no entanto, foram Silvio Santos, então acionista da Rede Record de São Paulo e também proprietário da TVS do Rio de Janeiro (canal 11), e Adolpho Bloch. Este, dono de um importante grupo de comunicação, que possuía credibilidade e influência no governo federal, tendo se tornado próximo aos sucessivos Presidentes da República.
O JB e a Editora Abril, por outro lado, eram vistos pelo governo como opositores. Já Silvio Santos foi o azarão do processo, pois era dono de uma concessão de TV no Rio e 50% da Rede Record, sendo inapto a concorrer de acordo com a Lei. Mas ele se comprometeu e entregar o novo canal carioca para a Rede Record, e vender sua participação na rede Paulista.
A TV Manchete Ltda, formalmente a razão social da empresa que participou da licitação, teve ajuda da Globo para fazer o projeto técnico. Bloch prometia uma “TV de alto nível“. O governo tinha certa preocupação porque as revistas do grupo Bloch costumavam usar a nudez feminina como isca para vender revistas.
Alexandre Garcia, então Diretor da Revista Manchete na capital, e que , havia sido porta-voz da Presidência da República até novembro de 1980, conseguiu convencer o Presidente que este problema não ocorreria e deu sua palavra como futuro Diretor de Jornalismo da emissora. O jornalista acabou não sendo Diretor da TV, mas participou ativamente como comentarista na frente das câmeras.
Os empresários assinaram a concessão em Brasília no dia 19 de agosto de 1981, e o SBT estreou transmitindo o evento ao vivo. A emissora do dono do baú contou com a infra-estrutura já existente na TVS , Record, e adquiriu equipamentos usados da antiga TV Tupi. Também contratou ex-profissionais da rede anterior para atender a uma das condições previstas no acordo com o Governo Federal. Já a Manchete, herdou a folha de pagamentos da Tupi carioca, mineira, pernambucana e cearense.
Já Adolpho Bloch demoraria dois anos para colocar sua rede no ar. Além da dificuldade natural em montar um negócio totalmente novo para suas empresas, o posicionamento que se traçava para a TV Manchete exigiria fortes investimentos, tanto na aquisição de equipamentos de ponta, como em uma programação de alta qualidade. A idéia era criar uma rede dirigida às classes A e B e que tivesse uma imagem jovem e moderna, inspirando-se no padrão da BBC de Londres.
Em 1982, o empresário encomendou a Oscar Niemeyer o projeto de expansão do prédio da Bloch Editores, no terreno ao lado, para comportar a estrutura da TV Manchete. Além disso, equipou o Teatro Adolpho Bloch para que pudesse ser usado como auditório de TV.
A exigência pela mais nítida imagem dentre as TVs, também demandou investimentos pesados nas torres de transmissão, e demais equipamentos que foram importados do Japão, Europa e Estados Unidos.
Adolpho contratou Rubens Furtado para a direção-geral, experiente profissional que trabalhara na TV Tupi. Zevi Ghivelder e Mauro Costa no jornalismo, Heitor Augusto e Julio Bartolo na direção de São Paulo, e Alexandre Garcia em Brasília, praça na qual a Manchete não possuia emissora própria. Samuel Tolbert, profissional renomado da TV americana, foi especialmente “importado” para tocar a engenharia.
O prazo final concedido pelo acordo da concessão se encerraria no dia 19 de agosto de 1983. Faltava pouco, e se a emissora não estreasse antes desta data, a Bloch Editores perderia as concessões. Enquanto o SBT já apresentava seus programas, a Manchete criava uma enorme expectativa nas emissoras concorrentes, no público e, principalmente, no mercado publicitário.