1981: Bloch ganha concessões e monta a TV mais moderna do mundo

A preparação para o início das operações da emissora durou quase dois anos.

Em 18 de julho de 1980, a Rede de emissoras dos Diários Associados foi cassada pelo Governo Federal após longo período de crises que levaram sete emissoras capitaneadas pela TV Tupi de São Paulo a um quadro com endividamento, equipamentos e programação sucateados, salários atrasados e funcionários em greve.

No mesmo dia, o Departamento de Telecomunicações do governo interditou os transmissores de sete emissoras: TV Tupi São Paulo, TV Tupi do Rio, TV Itacolomi (Belo Horizonte), TV Marajoara (Belém), TV Piratini (Porto Alegre), TV Clube (Recife) e TV Ceará (Fortaleza). As outras emissoras que compunham a então “Rede Tupi”, mas que não pertenciam ao grupo econômico, trataram de se filiar à TVS do Rio e à TV Record de São Paulo, mas mantendo independência comercial.

Dois meses após o fechamento da Tupi, o Governo do então presidente João Baptista Figueiredo, abriu uma nova concorrência pública para a operação os canais. Somou-se às sete emissoras da Tupi dois outros canais cassados dez anos antes, e ainda vagos: a TV Continental do Rio e a TV Excelsior de São Paulo.

Com nove canais, o governo lançou então editais para duas redes de televisão, das quais uma teria sede no Rio de Janeiro, e a outra em São Paulo. Ambas teriam emissoras nas duas metrópoles, e cada uma teria dois e três canais das capitais menores, assim:

Composições das novas redes

REDE AREDE B
Rio de Janeiro: canal 6 (TV Tupi)
Geradora
São Paulo: canal 4 (TV Tupi)
Geradora
São Paulo: canal 9 (TV Excelsior)*Rio de Janeiro: canal 9 (TV Continental)*
Belo Horizonte: canal 4 (TV Itacolomi)Porto Alegre: canal 5 (TV Piratini)
Recife: canal 6 (TV Clube)Belém: canal 5 (TV Marajoara)
Fortaleza: canal 2 (TV Ceará)
Total: 5 canais, sendo 4 ex-Rede TupiTotal: 4 canais, sendo 3 ex-Rede Tupi
*TV Continental e TV Excelsior não perteciam à Rede Tupi e já haviam sido cassadas na década anterior.

Grupos econômicos importantes se interessaram, como a Editora Abril, o Jornal do Brasil, Grupo Silvio Santos, Rádio Capital e a Bloch Editores. Bandeirantes e Record se posicionaram contra a divisão em duas redes, pois alegavam que as três existentes (Globo, Bandeirantes e Record/TVS) já saturavam a verba publicitária disponível. Mas o governo achava exatamente o oposto: que mais redes aumentariam a concorrência e forçariam uma melhor divisão dos investimentos no setor.

Folha de SP: JB e Abril estariam quase definidos para novas redes de televisão,
Colunista da Folha, Tarso de Castro, afirma que Jornal do Brasil e Editora Abril estavam praticamente definidos

A disputa foi tão acirrada que o resultado demorou um ano para sair. A expectativa no mercado era a de que os contemplados viriam a ser o Grupo Abril e o Jornal do Brasil. Os privilegiados, no entanto, foram Silvio Santos, então acionista da Rede Record de São Paulo e também proprietário da TVS do Rio de Janeiro (canal 11), e Adolpho Bloch. Este, dono de um importante grupo de comunicação, que possuía credibilidade e influência no governo federal, tendo se tornado próximo aos sucessivos Presidentes da República.

O JB e a Editora Abril, por outro lado, eram vistos pelo governo como opositores. Já Silvio Santos foi o azarão do processo, pois era dono de uma concessão de TV no Rio e 50% da Rede Record, sendo inapto a concorrer de acordo com a Lei. Mas ele se comprometeu e entregar o novo canal carioca para a Rede Record, e vender sua participação na rede Paulista.

A TV Manchete Ltda, formalmente a razão social da empresa que participou da licitação, teve ajuda da Globo para fazer o projeto técnico. Bloch prometia uma “TV de alto nível“. O governo tinha certa preocupação porque as revistas do grupo Bloch costumavam usar a nudez feminina como isca para vender revistas.

Alexandre Garcia, então Diretor da Revista Manchete na capital, e que , havia sido porta-voz da Presidência da República até novembro de 1980, conseguiu convencer o Presidente que este problema não ocorreria e deu sua palavra como futuro Diretor de Jornalismo da emissora. O jornalista acabou não sendo Diretor da TV, mas participou ativamente como comentarista na frente das câmeras.

Imagem de História da Rede Manchete
Bloch recebeu apoio técnico da Globo em 1981

Os empresários assinaram a concessão em Brasília no dia 19 de agosto de 1981, e o SBT estreou transmitindo o evento ao vivo. A emissora do dono do baú contou com a infra-estrutura já existente na TVS , Record, e adquiriu equipamentos usados da antiga TV Tupi. Também contratou ex-profissionais da rede anterior para atender a uma das condições previstas no acordo com o Governo Federal. Já a Manchete, herdou a folha de pagamentos da Tupi carioca, mineira, pernambucana e cearense.

Adolpho Bloch demoraria dois anos para colocar sua rede no ar. Além da dificuldade natural em montar um negócio totalmente novo para suas empresas, o posicionamento que se traçava para a TV Manchete exigiria fortes investimentos, tanto na aquisição de equipamentos de ponta, como em uma programação de alta qualidade. A idéia era criar uma rede dirigida às classes A e B e que tivesse uma imagem jovem e moderna, inspirando-se no padrão da BBC de Londres.

Ampliação do prédio da Bloch Editores para abrigar a TV Manchete, 1982.
Ampliação do prédio da Bloch Editores para abrigar a TV Manchete, 1982.

Em 1982, o empresário encomendou a Oscar Niemeyer o projeto de expansão do prédio da Bloch Editores, no terreno ao lado, para comportar a estrutura da TV Manchete. Além disso, equipou o Teatro Adolpho Bloch para que pudesse ser usado como auditório de TV.

A exigência pela mais nítida imagem dentre as TVs, também demandou investimentos pesados nas torres de transmissão, e demais equipamentos que foram importados do Japão, Europa e Estados Unidos.

Adolpho contratou Rubens Furtado para a direção-geral, experiente profissional que trabalhara na TV Tupi. Zevi Ghivelder e Mauro Costa no jornalismo, Heitor Augusto e Julio Bartolo na direção de São Paulo, e Alexandre Garcia em Brasília, praça na qual a Manchete não possuia emissora própria. Samuel Tolbert, profissional renomado da TV americana, foi especialmente “importado” para tocar a engenharia.

O prazo final concedido pelo acordo da concessão se encerraria no dia 19 de agosto de 1983. Faltava pouco, e se a emissora não estreasse antes desta data, a Bloch Editores perderia as concessões. Enquanto o SBT já apresentava seus programas, a Manchete criava uma enorme expectativa nas emissoras concorrentes, no público e, principalmente, no mercado publicitário.

Por Diogo Montano

Diogo Montano é Bacharéu em Ciência da Computação, pós graduado em Gestão de Negócios, e trabalha há quase vinte anos unindo duas coisas que sempre gostou: comunicação e tecnologia. Cresceu assistindo à Globo e Manchete, canais de tv que tinham as melhores imagens da região. Em 1999, ainda antes de entrar na faculdade, publicou a primeira versão deste site, logo após a venda da Manchete.