Infantis da Manchete marcaram uma geração

Clube da Criança: pioneiro

As crianças foram parte importante da audiência da Manchete, e isso não aconteceu por acaso: a programação infantil fez parte da estratégia da emissora desde sua estreia no dia 6 de junho de 1983, quando os desenhos animados do Clube da Criança já representavam 40% da grade de programação diária. E foi como uma sessão de desenhos exibidos em sequência que entrou no ar aquele que viria a ser o primeiro programa infantil de auditório com crianças da TV.

O Clube da Criança ganhou, ainda no primeiro mês, uma apresentadora, fazendo as chamadas dos desenhos e pilotando jogos com crianças. Dali adiante foi um crescimento rápido e sólido, que fez do programa vice-líder de audiência. Três anos depois, Xuxa deixou a Manchete, sendo sucedida por Angélica, outro grande sucesso.

Antes disso, dois meses após a emissora estrear, a emissora já abriu um segundo horário para as crianças. O formato foi, de novo, de uma sessão de desenhos sem apresentador, às 15h, sob o título Sessão Animada. No fim de 1983, a sessão ganharia um apresentador e, assim com o Clube, se transformaria em outro programa, o Circo Alegre.

Circo Alegre

O Clube teve a consultoria do palhaço Carequinha, que tinha tido um programa para o mesmo perfil de público 20 anos antes na TV Tupi. O artista deu orientações para a produção e para a própria apresentadora, e foi o criador de muitas brincadeiras que permaneceram no ar até os anos 90. Carequinha ganhou um programa próprio meses depois, o Circo Alegre. Mais sobre o Circo Alegre…

Lupu Limpim Clapá Topô - com Lucinha Lins e Claudio Tovar

Lupu Limpim Clapá Topô

Sem Xuxa, de janeiro até agosto de 1986, O Clube da Criança exibia apenas desenhos animados, sem apresentadora, como tapa-buraco. Foi substituído então pelo Lupu Limpim Claplá Topô, num formato totalmente diferente do seu antecessor: Lucinha Lins e Claudio Tovar adaptaram, do teatro para a TV, o musical “Caixa de Brinquedos”, produzido e protagonizado pelo casal, e que vinha fazendo sucesso considerável de público e crítica pelo país. O programa misturava esquetes e números musicais, sendo elogiado pela crítica e conseguindo cativar principalmente o público de São Paulo.

Além do Clube

Embora o fim de tarde fosse alvo das maiores apostas para o público infanto-juvenil, a Manchete também oferecia opções para o público matinal.

Normalmente eram reprisados os desenhos e séries que tinham sido exibidos na tarde do dia anterior, mas empacotados em programas diferentes. Em 1984, o Circo Alegre já cumpria essa missão, sendo posteriormente substituído pela Sessão Animada (sem apresentadores), A Nave da Fantasia(1886), Cometa Alegria(1989) e Dudalegria(1992).

De 1995 em diante, a emissora deixou de ter um programa guarda-chuva para as atrações japonesas, preferindo exibi-las como programas independentes.

Balão Mágico x Nave da Fantasia

Além do desenvolvimento do Lupu Limpim, a Manchete também agiu rápido para contratar os apresentadores do global Balão Mágico, que perderia espaço para Xuxa nas manhãs da Globo. Em outubro de 1986, Simony, Ferrugem e os integrantes que participavam mascarados do programa ganharam atração semelhante nas manhãs da Manchete.

Anúncio da estreia de A Nave da Fantasia, 1986
Anúncio da estreia de A Nave da Fantasia, 1986

Uma das novas integrantes que se juntaram à turma foi a loirinha Angélica, desconhecida da maioria do público.

Em maio, Simony acertou sua ida para o SBT, abrindo espaço para Angélica no comando do programa matinal. O programa, apesar do bom desempenho da apresentadora, saiu do ar um mês depois porque a emissora já voltava a enfrentar dificuldades financeiras, e decidiu rifar programas deficitários.

No lugar da “Nave”, entrou o noticiário “Repórter Manchete”, interrompendo as atrações infantis matinais até 1989.

Angélica se destaca

Em outubro de 1987, a Manchete já tinha se dado conta do potencial de Angélica à frente da Nave da Fantasia, e decidiu trazer de volta o Clube da Criança, desta vez sob o comando da jovem. Por isso, o Lupu Limpim Clapla Topo foi extinto.

Angélica foi promovida ao principal horário infantil, e recuperou o título “Clube da Criança”, onde permaneceria por seis anos. Foi a que mais tempo comandou a atração, atravessando o período de maior audiência do canal. É a apresentadora mais associada ao programa na cabeça do público.

Durante seus anos na Manchete, Angélica lançou discos, subprodutos, fez filmes, e protagonizou uma minissérie. Naturalmente foi assediada para trocar de canal algumas vezes. Deixou a Manchete em 1993, ainda na fase em que o canal esteve sob gestão do grupo IBF.

Vida que segue…

A Manchete reformulou o “Clube da Criança” e trouxe a atriz Mylla Christie para apresentá-lo. Porém, menos de um ano depois, a jovem aceitou convite para atuar na novela global “A Viagem”.

Em 1994, a Miss Brasil Patrícia Nogueira, assumiu o Clube com tudo o que tinha direito (bonecas, disco, etc), e teve a ajudinha dos Cavaleiros do Zodíaco, Mas o Clube seria extinto em 1995 porque os seriados eram economicamente mais vantajosos.

Em 1997 a emissora trouxe o programa de volta, mas sem auditório e com apenas 30 minutos de duração. A aposta da vez era a garotinha Debbie, com 6 anos de idade. A menina era queridinha da direção da emissora e começava a ser preparada para ser a nova Angélica. Não deu tempo, pois em 1998 a Manchete entrou na sua derradeira crise.

Heróis japoneses

Mas a Manchete ficou marcada na cabeça de uma geração inteira não pelas brincadeiras do Clube da Criança, mas sim pelas lutas entre o bem e o mal travadas por heróis do outro lado do mundo. Jaspion, em 1988, e Os Cavaleiros do Zodíaco, em 1994, foram os primeiros dos subgêneros Tokusatsu e Anime, respectivamente, e fizeram tanto sucesso que geraram uma série de subprodutos e desencadearam ondas de importação desses conteúdos por todas as outras emissoras.

Logo da Sessão Super Herois, em 1992
Logo da Sessão Super Herois, em 1992

Jaspion Changeman, Flashman, Jiraya, Lion man, Cybercop, Jiban, Kamen Rider, Winspector, Patrine e Solbrain, foram exibidos no Clube da Criança e reprisados pelo Cometa Alegria/Dudalegria.

Depois ganharam ganharam um novo horário vespertino, para a estreia dos principais títulos de cada ano. A “Sessão Super Heróis” antecedia o Clube, das 16h às 17h.

A partir de 1995, dentro do Clube da Criança, estreou Os Cavaleiros do Zodíaco, com reprises dentro do Dudalegria às 9h45. O “anime” trouxe frescor para a audiência infantil da emissora, se tornou maior que seus programas ‘hospedeiros’, acabando por influenciar na extinção de ambos.

No rastro dos “Cavaleiros”, vieram Shurato, Sailor Moon, Samurai Warriors, Doraemon, You You Hakushô, Supercampeões e Dragon Fight.

Outros programas infantis

Cometa Alegria(89-92)

9h às 12h: Apresentado por Cinthia Raquel, Patrick Oliveira, e convidados. Ambientado em um planeta e sem auditório, era o guarda-chuva matinal dos desenhos e seriados.

Dudalegria (93-95)

9h às 11h: Com o fim do Cometa Alegria, Duda Little assumiu o horário. O programa deixou de ser ambientado em um planeta e passou a ser apresentado por Duda Little em um cenário simples.

A Turma do Arrepio (95-98)

17h às 17h30: Série infantil com os conhecidos personagens das histórias em quadrinhos de mesmo nome. Era uma produção independente, com episódios de 30 minutos.

Clube do Seu Boneco (95-96)

Sitcom protagonizada por Seu Boneco, personagem criado e interpretado por Lugg de Paula. Tinha dez minutos diários (18h a 18h10).

Sandy & Junior Show (97-98)

Programa semanal apresentado por Sandy & Junior na que foi a primeira experiência televisiva da então consagrada dupla musical.

Estreou dia 13 de setembro de 1997, ocupando as noites de sábado das 19h às 20h. Era um programa de auditório com atrações musicais e games ente os adolescentes da plateia. Era uma produção independente. Foi exibido até janeiro de 1998. No ano seguinte a dupla estreou na Globo.

Vila do Tiririca (97-98)

Conforme o próprio nome afirma, o programa era ambientado em uma vila onde morava o famoso personagem Tiririca. O clássico formato de Chaves. Tinha meia hora de duração.

Desenhos animados (ocidentais)

Diversos desenhos animados ocidentais (não animes) também bateram ponto nas atrações infantis da Rede Manchete. Títulos famosos da Hanna Barbera conviveram com as atrações japonesas em perfeita harmonia, diversificando a oferta da emissora como poucas fizeram.

Entre produções americanas e japonesas, a Manchete levava entretenimento a diferenças faixas etárias, com atrações tanto para os adolescentes, como para as crianças que começavam a assistir ao canal.

Confira a lista dos mais famosos:

  • Dartagnan e os três Mosqueteiros
  • Mini Polegar
  • Turma do Gasparzinho
  • Supertiras
  • Lord Gato
  • Andy, o Anjo
  • Godzilla
  • Bicudo
  • Jackson Five
  • Space Ghost
  • Os Herculóides
  • Os Impossíveis
  • Os Muzzarelas
  • A Coisa (Quarteto Fantástico)
  • Jerry Lewis
  • Doraemon
  • Os Apuros de Penélope Charmosa
  • A Corrida Maluca
  • Máquinas Voadoras
  • Quadrilha da Morte

Animes

Em 1994, a Rede Manchete trouxe ao Brasil um bem sucedido desenho de lutas produzido no Japão. Conquistando bastante sucesso em nosso país, os “Cavaleiros do Zodíaco” (Saint Seya) surgiu já lançando uma grife de brinquedos e um disco com suas trilhas sonoras. No período em que esteve no ar, o desenho conquistou uma legião de fãs e deixou um bom índice de audiência para a emissora.

Naturalmente, logo depois a emissora lançou uma série de atrações do gênero, como Shurato e Yu Yu Hakushô. Veja todos os animes da Manchete.

Por Diogo Montano

Diogo Montano é Bacharéu em Ciência da Computação, pós graduado em Gestão de Negócios, e trabalha há quase vinte anos unindo duas coisas que sempre gostou: comunicação e tecnologia. Cresceu assistindo à Globo e Manchete, canais de tv que tinham as melhores imagens da região. Em 1999, ainda antes de entrar na faculdade, publicou a primeira versão deste site, logo após a venda da Manchete.