Adolfo Bloch, (☆ Zhytomyr, Ucrânia, 8 de outubro de 1908 / ✝ São Paulo, 19 de novembro de 1995) foi um dos mais importantes empresários da imprensa brasileira. No Brasil, passou a assinar como Adolpho Bloch, com o ‘ph’ no lugar do f em seu primeiro nome.
Fundador do grupo de mídia que levava seu sobrenome, Adolpho criou a revista semanal Manchete, em 1952, dando origem a várias outras importantes publicações factuais ou educacionais. Nos anos setenta, adquiriu seis emissoras de rádio (cinco FM e uma AM), em cinco capitais brasileiras . Por fim, em 1983, estreou a Rede Manchete de Televisão.
Da Ucrânia para o Brasil
O fato da família Bloch ser de origem judaica fez com que se envolvessem em muitos problemas a partir de 1917, época da Revolução Russa. Gráficos, tiveram seus bens confiscados pelo governo comunista no processo de desapropriação generalizado imposto durante o regime de transição socialista.
Seus pais e mais 15 familiares deixaram sua cidade natal, Zhytomyr, para tentar uma vida melhor em Kiev, capital da Ucrânia. Em 1921, resolvem deixar o país definitivamente, e partiram para Nápoles, Itália, onde permaneceram por nove meses. Em 1922, os Blochs mudaram-se novamente, desembarcando no Rio de Janeiro.
Chegaram à então capital federal brasileira trazendo consigo apenas um pequeno pilão, utilizado para espremer especiarias. “O Pilão” se tornaria o título de sua autobiografia, lançada na década de 1980.
Também trouxeram algumas economias, que logo decidiram investir no mesmo ramo com o qual trabalhavam na Ucrânia: o gráfico. Em 1923, compraram uma pequena impressora manual e começaram a rodar folhas numeradas para o jogo do bicho, que ainda era uma atividade legal (só se tornaria contravenção vinte anos depois).
Durante a década de 40, Adolpho trabalhou para a editora Rio Gráfica, de Roberto Marinho. Já nessa época, “Seu Adolpho” (como era tratado pelos funcionários até sua morte) era amigo de artistas e políticos que frequentavam a área boêmia do Rio. Lá existia o Grêmio Recreativo Familiar Kananga do Japão, onde aconteciam rodas de gafieira. Esse lugar foi fonte de inspiração para a novela homônima da Rede Manchete, em 1989, idealizada pelo empresário.
Em 26 de abril de 1952, Adolpho Bloch lança o primeiro número da revista Manchete, realizando o sonho de publicar um semanário de âmbito nacional. Aproveitou os três dias da semana em que suas impressoras ficavam ociosas (nos demais, elas rodavam revistas para a Rio Gráfica, principalmente). A partir daí, foi o início da construção de um dos maiores impérios de mídia da América Latina.
Desde sua fundação até meados da década de 60, a Bloch Editores era sediada na rua Frei Caneca, no centro do Rio. Nesta década, construiu um imponente prédio em frente ao Pão de Açúcar, transferindo a sede de suas empresas para a Rua do Russel, no bairro da Glória (Zona Sul carioca). A Bloch Editores também publicava livros e revistas dos mais variados segmentos.
Além de Manchete (que se tornou a mais lida do Brasil e era vendida nas principais capitais do mundo), outro grande orgulho do empresário foi a amizade com o ex-presidente Juscelino Kubitschek, de quem foi o amigo de todas as horas. Não abandonou o ex-presidente quando este esteve no exílio, e montou um escritório que serviu de apartamento quando JK voltou com sua esposa ao Brasil.
A amizade era tamanha que, quando o ex-presidente faleceu, em 1976, Adolpho obrigou que o corpo fosse velado no saguão da sede de sua editora, na Glória. Ordenou que um motorista fosse ao Museu de Arte Moderna pegar o corpo do ex Presidente para ser velado no prédio-sede de Manchete. Além disso, foi a Manchete quem construiu o Monumento JK, em Brasília.
Diferentemente do que muitos imaginam, a comunicação eletrônica nunca despertou o interesse do empresário. Seus sobrinhos, porém, enxergando a oportunidade como uma evolução natural e necessária dos negócios da família, conseguiram convencê-lo. Pedro Jack Kapeller, então diretor de operações das empresas liderou este movimento. Na década de 70, lançaram a Rede Manchete de Rádio FM, com 5 emissoras pelo Brasil e a Rádio Manchete AM do Rio de Janeiro.
No início da década de 1980, Adolpho designou um grupo de diretores e funcionários da Bloch Editores para cuidar do projeto da Rede Manchete de Televisão. Quando voltou de viagem aos Estados Unidos em 1981, encontrou o projeto de TV bastante adiantado, mas não estava a par de quase nada.
O investimento numa rede de televisão não estava entre as suas prioridades, pois segundo o próprio Adolfo Bloch, queria continuar investindo na editora e concretizar o projeto de fabricar latas de alumínio. Ele relutava consigo e custou-lhe a idéia de ter a sua estação de TV. Mas quando aderiu, e seguindo o seu temperamento, foi para valer. Em 5 de junho de 1983, depois de vários adiamentos, a Rede Manchete foi finalmente inaugurada.
Em 1990 foi inaugurada uma Escola Técnica com o seu nome, em São Cristovão, no Rio de Janeiro. A Escola Técnica Estadual Adolpho Bloch é a única escola de Comunicação da América Latina.
No início de novembro de 1995, Adolpho Bloch foi internado no hospital da Beneficência Portuguesa, em São Paulo, para tratar dois problemas: embolia pulmonar e disfunção da prótese da válvula mitral do coração. Na madrugada do dia 18 para o dia 19, seu quadro agravou-se, e ele precisou ser operado, mas não resistiu. “Seu Adolpho” faleceu no dia 19 de novembro de 1995, aos 87 anos, sem ter tido filhos.
Deixava apenas a esposa, Anna Bentes, com quem vivia em segundas núpcias desde 1980. Com isso, as empresas de seu grupo passaram para o controle do sobrinho de Bloch, Pedro Jack Kapeller (conhecido como Jaquito), que ficou no comando destas até o ano 2000, quando o conglomerado Bloch pediu autofalência.