Quem foi Adolpho Bloch

Nascido na Ucrânia, ,as naturalizado brasileiro, Adolpho Bloch assumiu os negócios da família e transformou a Gráficos Bloch em um império produtor e distribuidor de conteúdo a partir da criação, em 1952, daquela que logo se tornaria a mais importante revista do país, principalmente nas décadas de 60 e 70. Da revista semanal Manchete nasceu a Bloch Editores, e então uma dezena de outros títulos importantes da mídia impressa, seis estações de rádio e uma rede de TV com cinco emissoras próprias. Era um visionário, “com tino para os negócios”, com amigos influentes, ufanista, político, bom anfitrião, negociador, de personalidade forte e centralizador. Se tornou a alma de suas empresas, se confundindo com elas, não as tendo preparado para uma gestão profissional, autônoma e descolada das consequências que o efeito do tempo teria sobre si próprio.

Adolfo Bloch, (☆ Zhytomyr, Ucrânia, 8 de outubro de 1908 / ✝ São Paulo, 19 de novembro de 1995) foi um dos mais importantes empresários da imprensa brasileira. No Brasil, passou a assinar como Adolpho Bloch, com o ‘ph’ no lugar do f em seu primeiro nome.

Fundador do grupo de mídia que levava seu sobrenome, Adolpho criou a revista semanal Manchete, em 1952, dando origem a várias outras importantes publicações factuais ou educacionais. Nos anos setenta, adquiriu seis emissoras de rádio (cinco FM e uma AM), em cinco capitais brasileiras . Por fim, em 1983, estreou a Rede Manchete de Televisão.

Da Ucrânia para o Brasil

O fato da família Bloch ser de origem judaica fez com que se envolvessem em muitos problemas a partir de 1917, época da Revolução Russa. Gráficos, tiveram seus bens confiscados pelo governo comunista no processo de desapropriação generalizado imposto durante o regime de transição socialista.

Seus pais e mais 15 familiares deixaram sua cidade natal, Zhytomyr, para tentar uma vida melhor em Kiev, capital da Ucrânia. Em 1921, resolvem deixar o país definitivamente, e partiram para Nápoles, Itália, onde permaneceram por nove meses. Em 1922, os Blochs mudaram-se novamente, desembarcando no Rio de Janeiro.

Adolpho Bloch no cenário do jornalismo da Rede Manchete, no início dos anos 80
Adolpho Bloch no cenário do jornalismo da Rede Manchete, no início dos anos 80

Chegaram à então capital federal brasileira trazendo consigo apenas um pequeno pilão, utilizado para espremer especiarias. “O Pilão” se tornaria o título de sua autobiografia, lançada na década de 1980.

Também trouxeram algumas economias, que logo decidiram investir no mesmo ramo com o qual trabalhavam na Ucrânia: o gráfico. Em 1923, compraram uma pequena impressora manual e começaram a rodar folhas numeradas para o jogo do bicho, que ainda era uma atividade legal (só se tornaria contravenção vinte anos depois).

Durante a década de 40, Adolpho trabalhou para a editora Rio Gráfica, de Roberto Marinho. Já nessa época, “Seu Adolpho” (como era tratado pelos funcionários até sua morte) era amigo de artistas e políticos que frequentavam a área boêmia do Rio. Lá existia o Grêmio Recreativo Familiar Kananga do Japão, onde aconteciam rodas de gafieira. Esse lugar foi fonte de inspiração para a novela homônima da Rede Manchete, em 1989, idealizada pelo empresário.

Amigos desde a década de 1940, Adolpho Bloch e Roberto Marinho
Amigos desde a década de 1940, Adolpho Bloch e Roberto Marinho

Em 26 de abril de 1952, Adolpho Bloch lança o primeiro número da revista Manchete, realizando o sonho de publicar um semanário de âmbito nacional. Aproveitou os três dias da semana em que suas impressoras ficavam ociosas (nos demais, elas rodavam revistas para a Rio Gráfica, principalmente). A partir daí, foi o início da construção de um dos maiores impérios de mídia da América Latina.

Adolpho Bloch com a primeira edição da revista Manchete - 1952
Adolpho Bloch com a primeira edição da revista Manchete – 1952

Desde sua fundação até meados da década de 60, a Bloch Editores era sediada na rua Frei Caneca, no centro do Rio. Nesta década, construiu um imponente prédio em frente ao Pão de Açúcar, transferindo a sede de suas empresas para a Rua do Russel, no bairro da Glória (Zona Sul carioca). A Bloch Editores também publicava livros e revistas dos mais variados segmentos.

Adopho Bloch caminha em Copacabana com o amigo JK
Adopho Bloch caminha em Copacabana com o amigo JK

Além de Manchete (que se tornou a mais lida do Brasil e era vendida nas principais capitais do mundo), outro grande orgulho do empresário foi a amizade com o ex-presidente Juscelino Kubitschek, de quem foi o amigo de todas as horas. Não abandonou o ex-presidente quando este esteve no exílio, e montou um escritório que serviu de apartamento quando JK voltou com sua esposa ao Brasil.

A amizade era tamanha que, quando o ex-presidente faleceu, em 1976, Adolpho obrigou que o corpo fosse velado no saguão da sede de sua editora, na Glória. Ordenou que um motorista fosse ao Museu de Arte Moderna pegar o corpo do ex Presidente para ser velado no prédio-sede de Manchete. Além disso, foi a Manchete quem construiu o Monumento JK, em Brasília.

Adolpho Bloch em frente ao Monumento JK, em Brasília
Adolpho Bloch construiu o o monumento em homenagem ao amigo Juscelino Kubitcheck, em Brasília

Diferentemente do que muitos imaginam, a comunicação eletrônica nunca despertou o interesse do empresário. Seus sobrinhos, porém, enxergando a oportunidade como uma evolução natural e necessária dos negócios da família, conseguiram convencê-lo. Pedro Jack Kapeller, então diretor de operações das empresas liderou este movimento. Na década de 70, lançaram a Rede Manchete de Rádio FM, com 5 emissoras pelo Brasil e a Rádio Manchete AM do Rio de Janeiro.

No início da década de 1980, Adolpho designou um grupo de diretores e funcionários da Bloch Editores para cuidar do projeto da Rede Manchete de Televisão. Quando voltou de viagem aos Estados Unidos em 1981, encontrou o projeto de TV bastante adiantado, mas não estava a par de quase nada.

O investimento numa rede de televisão não estava entre as suas prioridades, pois segundo o próprio Adolfo Bloch, queria continuar investindo na editora e concretizar o projeto de fabricar latas de alumínio. Ele relutava consigo e custou-lhe a idéia de ter a sua estação de TV. Mas quando aderiu, e seguindo o seu temperamento, foi para valer. Em 5 de junho de 1983, depois de vários adiamentos, a Rede Manchete foi finalmente inaugurada.

Em 1990 foi inaugurada uma Escola Técnica com o seu nome, em São Cristovão, no Rio de Janeiro. A Escola Técnica Estadual Adolpho Bloch é a única escola de Comunicação da América Latina.

Adolpho Bloch tinha grande prestígio no meio político.
Adolpho Bloch tinha grande prestígio no meio político.

No início de novembro de 1995, Adolpho Bloch foi internado no hospital da Beneficência Portuguesa, em São Paulo, para tratar dois problemas: embolia pulmonar e disfunção da prótese da válvula mitral do coração. Na madrugada do dia 18 para o dia 19, seu quadro agravou-se, e ele precisou ser operado, mas não resistiu. “Seu Adolpho” faleceu no dia 19 de novembro de 1995, aos 87 anos, sem ter tido filhos.

Deixava apenas a esposa, Anna Bentes, com quem vivia em segundas núpcias desde 1980. Com isso, as empresas de seu grupo passaram para o controle do sobrinho de Bloch, Pedro Jack Kapeller (conhecido como Jaquito), que ficou no comando destas até o ano 2000, quando o conglomerado Bloch pediu autofalência.

Xuxa, Adolpho e Anna Bentes Bloch - 1994
Xuxa, Adolpho Bloch e Anna Bentes, sua esposa no aniversário da rainha em 1994

Por Diogo Montano

Diogo Montano é Bacharéu em Ciência da Computação, pós graduado em Gestão de Negócios, e trabalha há quase vinte anos unindo duas coisas que sempre gostou: comunicação e tecnologia. Cresceu assistindo à Globo e Manchete, canais de tv que tinham as melhores imagens da região. Em 1999, ainda antes de entrar na faculdade, publicou a primeira versão deste site, logo após a venda da Manchete.