A Rede Manchete vai voltar?

A resposta é: desde 2021 esta possibilidade passou a existir, pelo menos se considerarmos como “volta” o lançamento de um canal ou plataforma de consumo de conteúdo audiovisual com o nome fantasia “TV Manchete”, com ou sem seu logotipo (e variações).

Imagem de História da Rede Manchete

Por que a TV Manchete pode voltar?

Depois que a marca foi arrematada por um empresário num leilão judicial ocorrido no final de 2021, não há mais impedimento legal para que “TV Manchete” seja escolhida como nome e símbolo de um novo produto, plataforma ou canal audiovisual.

O novo proprietário pagou 250 mil reais à massa falida da TV Manchete Ltda, empresa que representava a emissora como a conhecemos no passado e, portanto, foi a “dona” do nome e do logotipo em questão por 40 anos.

Se considerarmos que a chamada “volta da Rede Manchete” seja simplesmente o lançamento de um novo canal de TV ou streaming, sem que seja necessário atender a outros critérios, podemos então dizer que isso atualmente já seria possível.

Portanto, a resposta para a pergunta “a Rede Manchete vai voltar?” é: esta decisão depende pura e simplesmente da “vontade” do atual detentor da marca, ainda desconhecido.

Logo e Lettering da marca da Manchete
Logo e Lettering da marca da Manchete

Quem comprou a Rede Manchete?

O empresário que arrematou, no mesmo leilão, além da marca da Manchete, também o acervo de novelas, preferiu manter o anonimato. O novo dono da TV Manchete (da marca), comprou também as novelas por 250 mil reais, desembolsando ao todo 500 mil reais.

O novo dono da TV Manchete é desconhecido. Pode vir a ser algum laranja que represente algum empresário de outra emissora, que apenas adquiriu os direitos para que outro canal não viesse a reprisar as novelas, por exemplo. Ou pode ser o proprietário de alguma outra empresa que ainda utilize o nome fantasia “Manchete”, como a Rádio Manchete do Rio de Janeiro, ou a Manchete Gospel FM. Que pode ser usada como nome do canal da empresa no youtube, por exemplo.

Afinal, a Manchete pode realmente voltar?

Se o misterioso empresário decidir relançar qualquer coisa chamada ‘TV Manchete’, poderemos considerar tal situação como um verdadeiro “retorno da TV Manchete”?

Esta é outra questão. Afinal, que condições precisam existir para consideramos isso? Apenas a marca dando nome a um canal de TV fechado por exemplo, poderia significar tal retorno?

Ou o novo canal deveria atender a outros requisitos como:

  • Presença de programas icônicos na grade, como Tokusatsus, Animes, transmissões de eventos como o carnaval, um jornal analítico às 21h, novela após o jornal?
  • Será que estas atrações fariam sentido depois de tanto tempo? Os infantis há muito deixaram de ser atraentes para o mercado publicitário.
  • Seria condição que o novo canal tivesse funcionários que trabalharam na antiga emissora? Se sim, seria possível depois de vinte anos?
  • Um canal com tanta variedade de gêneros vingaria na TV fechada?
  • O mercado de TV paga, em franco encolhimento, teria demanda para sustentar um novo canal, e que ainda por cima fosse um superstation (canal com vários gêneros de programação)? Não esqueçamos o exemplo da CNN, focada em notícias, com aparente gap de oferta no mercado, que ainda assim, não está se pagando….
  • A nova empresa teria que fazer parcerias com empresas de outras plataformas de mídia para comprar ou vender conteúdos. Hoje em dia uma empresa produtora de conteúdo só consegue pagar custos de produção se escoar seus produtos por mais de uma plataforma de consumo (TV aberta + TV Paga + streaming, idealmente).
  • A quantidade de canais abertos é limitada, e este meio vem sofrendo precarização devido à migração de audiência para o streaming. Para piorar, isso ocorre de forma pulverizada, ficando mais difícil compensar a perda de audiência estendendo sua presença para a nova plataforma.
  • Caso a opção fosse por lançar um canal na TV aberta, a nova empresa teria que tentar comprar alguma rede existente. CNT? RedeTV!? Haveria capital pra tanto?

Por outro lado…

Por que o tal empresário desembolsaria tanto dinheiro por uma marca se não vislumbrasse potencial no seu uso? Apesar de forte e valer tanto, a tendência é que ela perca valor ano após ano, pois vai aos poucos perdendo o que tem de mais precioso: a percepção do público a respeito do que a marca representa de positivo vai se perdendo, até porque quem nasceu na virada do milênio já não tem qualquer vínculo com o nome TV Manchete. Além disso, o total de consumidores que conhecem a marca também cai com o tempo.

Revendê-la também não parece ser o objetivo inicial porque, antes do leilão de 2021, houve dois outros, ambos sem compradores realmente interessados.

Sobre falências…

A TV Manchete Ltda, que vem a ser empresa que representa a antiga Manchete (na verdade é um conjunto de CNPJs), teve sua falência foi decretada em 1999 e, desde então, vem passando por um demorado processo de liquidação. Neste processo, bens e dívidas são auditados e vendidos (através de leilões). Os valores arrecadados são utilizados para o pagamento de parte das dívidas deixadas pela empresa com credores, governo, ex-fornecedores e ex-funcionários.

O nome fantasia TV Manchete e suas derivações (Rede Manchete, Televisão Manchete, Manchete TV, Jornal da Manchete, etc, se configuram como um ativo porque possui atratividade suficiente para que seja vendida a alguém, ou seja, vale dinheiro.

A marca pertencia à massa falida da empresa e, portanto, poderia ser vendida como se fosse um imóvel ou equipamento. Junto com o acervo da emissora, a marca foi um dos bens remanescentes da rede de televisão, o que significa que o calote em centenas de ex-funcionários e demais credores já pode ser considerado um fato.

Por Diogo Montano

Diogo Montano é Bacharéu em Ciência da Computação, pós graduado em Gestão de Negócios, e trabalha há quase vinte anos unindo duas coisas que sempre gostou: comunicação e tecnologia. Cresceu assistindo à Globo e Manchete, canais de tv que tinham as melhores imagens da região. Em 1999, ainda antes de entrar na faculdade, publicou a primeira versão deste site, logo após a venda da Manchete.