O Estado de S. Paulo – 10/5/1999
Empresa de telemarketing, que controlava serviços de 0900, deverá pagar US$ 608 milhões pela emissora
RIO A Rede Manchete foi vendida para o grupo paulista TeleTV, que explorava serviços do 0900 e presta serviço de telemarketing. O negócio, no valor de US$ 608 milhões, foi fechado ontem, às 2 horas, ao fim de uma longa reunião entre o presidente do Grupo Bloch e atual proprietário da emissora, Pedro Jack Kappeller, e o presidente do TeleTV, Amilcare Dallewo Júnior. A reunião durou quase 12 horas e foi realizada no Hotel Glória, que fica perto da sede da tevê, na zona sul do Rio.
A informação sobre o negócio foi divulgada pelo presidente do Sindicato dos Radialistas do Rio de Janeiro, Márcio Leal, e confirmada pela Assessoria de Imprensa da Manchete.
Os funcionários da emissora, que estão sem receber salários desde outubro do ano passado, deveriam ser informados ontem sobre o negócio. Segundo o presidente do sindicato, o novo proprietário da rede de tevê prometeu regularizar o pagamento dos salários, mas somente após a aprovação do negócio pelo governo. Esse processo pode demorar até um mês.
Está prevista para hoje, às 11 horas, em Brasília, uma audiência de Dallewo Júnior e Kappeller com o ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga. Eles darão informações sobre a negociação e pedirão ao ministro que encaminhe o caso ao presidente da República. Os dois esperam que Fernando Henrique assine uma concessão primária. Depois disso, a venda será submetida à apreciação do Congresso, para que os novos donos recebam a concessão definitiva.
Representantes dos trabalhadores da Manchete também pretendem encontrar-se hoje com o ministro Pimenta da Veiga para discutir a questão.
Dívidas As dívidas da TV Manchete com o governo chegam a R$ 500 milhões. Pelo contrato assinado ontem, que envolve um valor total de US$ 608 milhões, Kappeller receberá US$ 1 milhão no ato da assinatura. Em seguida, passará a receber US$ 7,5 milhões mensais, durante seis anos.
Os novos donos esperam faturar US$ 30 milhões por mês com a tevê, com base no fato de que no ano passado, no auge da crise da emissora, o faturamento mensal era de US$ 10 milhões.
O contrato também prevê que os compradores deverão encontrar uma nova sede para emissora. Eles terão seis meses para sair do local onde funciona atualmente a Manchete, no Rio. A sede paulista, porém, poderá ser utilizada por quatro anos. Essa diferença deve-se ao fato de o prédio do Rio também abrigar a Editora Bloch. Em São Paulo, a tevê e a editora ocupam prédios independentes.
Por causa dessa cláusula do contrato, a sede da Manchete deverá ser transferida do Rio para São Paulo. No encontro que pretendem manter com o ministro das Comunicações, os representantes sindicais dos trabalhadores deverão protestar contra essa mudança. Segundo Leal, a transferência desrespeita a lei, por não se tratar de uma nova concessão.
Empréstimo Para comprar a Manchete, Dallewo Júnior teria conseguido um empréstimo de US$ 1 bilhão com a financeira americana Lemmon & Brothers. De acordo com informações que circulam no mercado, mas não confirmadas pelos assessores do empresário, a tevê seria a cabeça de um projeto mais amplo que o empresário estaria arquitetando na área de comunicação. Feita a venda da Manchete, Kappeller deve iniciar, agora, a venda da gráfica Bloch.
Desde 1992, a Manchete vinha sendo disputada na Justiça por outro empresário, Hamilton Lucas de Oliveira, do grupo Instituto Brasileiro de Formulários (IBF). A falta de uma solução para o impasse dificultava qualquer negócio. Mas a sentença favorável à família Bloch saiu há 15 dias.
De acordo com os sindicalistas, o grupo tem 1.359 funcionários, distribuídos entre a TV Manchete e a empresa Som e Imagem, criada recentemente. É preciso haver sensibilidade para que todos sejam absorvidos, disse Leal.
Texto originalmente escrito por André Silva, em 02/05/2006