Além das boas histórias, livro de Luiz Santoro tem a cara da Manchete

Em agosto de 2021, o jornalista Luiz Santoro lançou o livro “Minha vida na Rede Manchete e algumas histórias da TV e do Rádio, onde o ex âncora do Jornal da Manchete conta histórias curiosas que vivenciou durante seu período na emissora. Além das boas histórias, que por si só já são uma aula em conteúdo, Santoro o faz com uma linguagem acessível, precisa, mantem a curiosidade do leitor em fatos triviais, sem abrir mão da credibilidade, e ainda une tecnologia e criatividade na versão em audiobook, com sonoplastia profissional.

Coincidentemente ou não, o livro possui os atributos mais lembrados dos bons programas da Manchete: qualidade/relevância, valor cultural/educativo, linguagem acessível, bem humorado, e usa e abusa dos recursos tecnológicos e audiovisuais para inovar.

Luiz Santoro lança livro sobre sua passagem na Manchete
Luiz Santoro, autor de Minha vida na Rede Manchete, durante evento de lançamento do livro.

Luiz Santoro foi apresentador dos principais telejornais da emissora durante seus cinco primeiros anos. Neste período, o jornalismo era motivo de orgulho para o canal (era carro-chefe da programação) e, portanto, muito prestigiado pela crítica e pelo público. Santoro, portanto, foi “rosto e voz” do principal produto, que fez escola, sendo admirado e copiado em seguida pelas concorrentes.

Jornal da Manchete 2a Edição - 1985

A obra foi lançada nas versões impressa e a digital. A digital, por sua vez, inclui o próprio livro físco em PDF e um audiobook, que acaba sendo um show à à parte. Além de fazer a locução do texto, o que já traria um nível de qualidade acima da média, Santoro explorou todo o potencial da tecnologia, incluindo recursos de sonorização, vinhetas da emissora e imitações divertidas interpretadas pelo próprio jornalista.

Por último, vale destacar que o também professor Santoro explica com clareza, didatismo e no tempo certo, as palavras e expressões específicas da indústria do audiovisual, e faz isso sem comprometer o ritmo do discurso. Logo, o livro se torna agradável, engraçado e cheio de informações no mínimo curiosas para todos os públicos.

Âncora

Santoro costuma usar o título “âncora”, quando se refere à função que exerceu na Manchete. Ele tem razão. Bóris Casoy acabou ficando marcado como o primeiro âncora do Brasil porque o SBT distorceu o conceito ao tentar se diferenciar, quando lançou o TJ Brasil inspirado no Jornal da Manchete.

A palavra âncora começou a ser usada nos Estados Unidos na década de 70, e se referia ao profissional que apresentava e orquestrava um telejornal, ou seja, fazia as passagens entre reportagens, linkando com analistas, comentaristas, fazia entrevistas, etc… Era, portanto, o fio condutor do produto. Lá, nos EUA, foi sendo cada vez mais comum que este profissional participasse do fechamento do jornal e complementasse as reportagens com opiniões ou mesmo informações complementares.

Aqui no Brasil, um país que vivia numa ditadura militar, e sob os holofotes de um departamento de censura, os telejornais eram marcados pela frieza, formalidade, sem espaço para que jornalistas acabassem falando algo que desagradasse ao governo. O trabalho de “inteligência” do produto era desempenhado previamente, sem riscos de algo indesejado ir ao ar.

O apresentador, portanto, não tinha surpresas: seguia o script pré-estabelecido, sem precisar sequer entender sobre o que estava falando. Os aspectos estéticos, ou seja, imagem e voz, acabavam sendo os critérios mais relevantes para a escalação destes profissionais.

Foi no Jornal Bandeirantes, no fim da década de 70, que o âncora, por aqui, começou a emitir opinião: ao lado de Ferreira Martins e Ronaldo Rosas, o apresentador Joelmir Betting também comentava as notícias sobre Economia.

Em 1983, o Jornal da Manchete surgiu e abriu espaço inédito para as notícias. Além dos fatos mais detalhados, o telejornal analisava as noticias com a participação de comentaristas, convidados e através de entrevistas durante a exibição do jornal. Era comum haver mais de um comentarista, com visões distintas, quando o assunto era mais polêmico.

Para tentar vender a ideia de que era melhor, o SBT valorizou o aspecto personalíssimo do apresentador, confundindo o próprio telejornal com a figura de Bóris. Imprimiu a ideia de que lançava um telejornal com opinião. Na verdade, o TJ Brasil era um telejornal com a opinião do Bóris e, portanto, foi o Jornal do Bóris.

O próprio Bóris faz questão de esclarecer, quando é abordado por algum repórter que, desatento, o atribua o título de “primeiro âncora do Brasil”, que Joelmir Betting foi o primeiro “digno” do título “ancora”, quando este se refere a apresentador que acumule a editoria e também emita opinião no ar.

Minha vida na Rede Manchete e algumas histórias da TV e do Rádio

  • Autor: Luiz Santoro
  • Editora ‏ : ‎ Gramma Editora; 1ª edição (10 agosto 2021)
  • Idioma ‏ : ‎ Português
  • Capa comum ‏ : ‎ 171 páginas
  • ISBN-10 ‏ : ‎ 658605253X
  • ISBN-13 ‏ : ‎ 978-6586052534
  • Dimensões ‏ : ‎ 14 x 1 x 20.3 cm

Capa do Livro de Luiz Santoro

Por Diogo Montano

Diogo Montano é Bacharéu em Ciência da Computação, pós graduado em Gestão de Negócios, e trabalha há quase vinte anos unindo duas coisas que sempre gostou: comunicação e tecnologia. Cresceu assistindo à Globo e Manchete, canais de tv que tinham as melhores imagens da região. Em 1999, ainda antes de entrar na faculdade, publicou a primeira versão deste site, logo após a venda da Manchete.