Manchete investiu U$S 25mi para conquistar SP

Durante seus primeiros anos de vida, a Manchete foi para o Rio o que o SBT era para São Paulo: a primeira opção à Globo tanto para os telespectadores como para os profissionais do mercado de TV. Na capital fluminense, a emissora era vice em audiência e incomodava a Globo com sucessos como Dona Beija (que chegou a dar 42 pontos contra 41 da líder), com as transmissões do carnaval, e com o jornalismo mais próximo ao telespectador. Para se ter uma ideia, em 1985, o Jornal da Manchete , conseguia médias de 8 pontos com picos de 11, competindo com nada mais que a novela “arrasa-quarteirão” Roque Santeiro.

Em São Paulo, os números eram mais modestos. A não ser durante sucessos como Beija, Xuxa, e Carnaval, a Manchete não ficava atrás do SBT, e disputava o terceiro lugar com Bandeirantes e até Record.

O prinicipal motivo identificado era a cara de emissora carioca. Além do sotaque, a visibilidade que a emissora dava ao Rio de Janeiro era bem maior, ocorrendo exatamente o inverso com as emissoras sediadas em SP. Uma característica natural, mas que tambem gera no espectador identificação e rejeição naturais.

A Globo era lídenr inconteste no mercado nacional, com produtos percebidos como melhores ou ideais pelos telespectadores. Neste caso, o CEP da emissora tinha pouca relevância na escolha do espectador, pois características relacionadas ao conteúdo sobrepunham a questão local. Ainda assim, é tradição que a Globo tenha, até hoje, audiências menores que no Rio. Pouca coisa, mas tem.

No caso da Manchete, não houve, na largada, um cuidado para evitar que a imagem da emissora carregasse o adjetivo pátrio. Havia uma significativa diferença estrutural entre matriz e filiais. Isso é perfeitamente normal, essa diferença era ainda maior: no Rio, a emissora tinha uma estrutura equiparável à TV Globo, e tecnologia superior durante muitos anos. Já em São Paulo, apesar da excelência em imagem e som, o prédio da região do Sumaré era pequeno demais para acomodar programas locais. Só tinha espaço para os telejornais paulistanos.

Pensando em se tornar mais paulistana, em 87 começou a construção de um novo prédio, que não seria apenas uma filial, mas sim uma subsede, com toda infra-estrutura necessária para a produção tanto do jornalismo como de quadros e atrações para a grade nacional. Arquitetado por Oscar Niemeyer, que também fez os projetos de todos os outros prédios da Bloch, o complexo ficava na Casa Verde, próximo à marginal Tietê, e contava com dois prédios sobrepostos: um remetia à sede carioca na Praia do Flamengo, com 5 pavimentos, dedicados à administração e departamento comercial. O outro, com estúdios e produções, remetia ao antigo prédio paulistano localizado no Sumaré.

Sede paulista da Manchete
Sede paulista da Manchete, inaugurada em 1989, com infra completa para TV

Em agosto de 89 foi inaugurada a nova sede da Manchete em SP, ao custo total de 25 milhoes de dólares. Lá seriam produzidos programas como Mulher 90, Sem Limite, e durante a gestão do grupo IBF se tornaria a sede da rede. Nessa época quase todos os programas e telejornais foram gerados de lá, como Almanaque, Clodovil Abre o Jogo, Clube da Criança, Milk Shake, etc.

Depois do retorno da emissora às mãos da família Bloch, e consequentemente da cabeça de rede para o Rio, SP produziu Mulher de Hoje, Programa Raul Gil, Domingo Milionário, Domingo Total, Momento Econômico, Frente a Frente, etc.

Por Diogo Montano

Diogo Montano é Bacharéu em Ciência da Computação, pós graduado em Gestão de Negócios, e trabalha há quase vinte anos unindo duas coisas que sempre gostou: comunicação e tecnologia. Cresceu assistindo à Globo e Manchete, canais de tv que tinham as melhores imagens da região. Em 1999, ainda antes de entrar na faculdade, publicou a primeira versão deste site, logo após a venda da Manchete.

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