Logo Mandacaru 1997, 1998

Bemvindo Sequeira roubou a cena e salvou Mandacaru

Foi como construir um novo avião a partir de outro em pleno vôo, que Mandacaru se livrou por pouco de ser mais uma novela pra ser esquecida. A sucessora do grande sucesso Xica da Silva espantou o público, e pouco reagiu às mudanças promovidas pelo diretor Walter Avancinni durante seus dois primeiros meses de exibição.

Foi quando o diretor resolveu dar asas à ideia de Bemvindo Sequeira, interprete de Zebedeu, um personagem secundário que vivia para sabotar o bando de Tirana, o vilão-heroi da trama. Sem um motivo pra perseguição, Benvindo já vinha incluindo alguns cacos nas poucas cenas que tinha com seu (meio sem razao de existir) bando de cangaceiros.

Victor Wagner, por sua vez, junto a Murilio Rosa e Carla Regina, os protagonistas originais, e que definitivaemente não cativaram o público, acabaram se tornando espectadores do circo armado por um novo Zebedeu: delirante, sádico, infantil, e extremamente competente na arte de tomar uma novela pra si e transformar um drama árido numa história leve, debochada, escrachando o próprio non-sense, e com fôlego para mais dez meses com audiências entre oito e dez pontos.

Mandacaru: o sertão de volta à TV

Mandacaru sucedeu Xica da Silva, de seg. a sex. às 21h45, logo após o Jornal da Manchete, e “O Rei do Gado” na Globo. Estreou em 18 de agosto de 1997, permanecendo por quase um ano no ar. O último capítulo foi ao ar em 10 de agosto de 1998, quando foi substituída por Brida.

A história era baseada no sertão nordestino da década de 1930, com “as aventuras dos últimos cangaceiros” após a morte de Lampião. Com boa parte do elenco da novela anterior, Xica da Silva, Mandacaru não manteve os índices de sua antecessora, fechando com 7 ou 8 de média, e picos de 10 pontos percentuais a partir do seu terceiro mês.

Pelo cronograma original, a trama terminaria em abril. No entanto, com a aquisição dos direitos de exibição da Copa do Mundo de 1998 pela emissora, que ocorreria em julho daquele ano, a direção da Manchete decidiu esticar Mandacaru. O objetivo era que sua sucessora não disputasse atenção com o evento esportivo. Pela lógica, em agosto (quatro meses depois!) Brida teria toda a atenção da mídia, da emissora e do público.

O quarteto protagonista de Mandacaru - Manchete

Audiência desidratada…

A novela não pegou. Na trama central, a mocinha de Carla Regina vivia um triângulo amoroso entre o personagem de Murilo Rosa(repetindo o casal “Romeu e Julieta” de Xica da Silva), e o cangaceiro interpretado por Victor Wagner, líder do maior bando daquele momento. Mas o público não se convenceu, e nem se comoveu com os dramas vividos pelos personagens.

Além disso, as imagens eram feias, com cenários interiores duros, com poucos adereços e objetos decorativos, e todos rústicos ao extremo. A novela tinha uma atmosfera árida, figurinos surrados, sujos, e cidade cenográfica marrom, sem tinta, envelhecida e bastante empoeirada. Um retrato que até pode ser realista cokm o sertão nordestino dos anos 30, mas que se tornava desagradável aos olhos do telespectador. Contrastava com a visão luxuosa do ambiente no qual estava inserida a história de Xica da Silva, nas Minas Gerais colonial.

Além do triângulo amoroso sem química e sem torcida, e da imagem feiosa, também faltava humor. O recurso recorrente em histórias que se passam em lugarres pobres do nordeste, ficava a cargo de um frade Franciscano vivido por Guilherme Piva, outra repetição em relação à novela anterior (onde Piva também era encarregado de boa parte das cenas engraçadas). Na nova novela, no entanto, nem o ator e nem o personagem faziam rir.

Chamada de Estreia - Mandacaru - 1997

Bemvindo Sequeira rouba a cena e salva Mandacaru

Bemvindo Sequeira interpretava Zebedeu, líder de um grupo de Cangaceiros inimigos de Tirana (Victor Wagner). Ao contrário do que supunha a carreira pregressa do ator, Zebedeu não tinha nada de cômico. Pelo contrário: era inescrupuloso, perseguia Tirana por inveja, e se divertia fazendo atrocidades desnecessárias. Vendo as tentativas de Walter Avancini melhorar a novela, o ator sugeriu algumas mudanças. Avancini respondeu que entregava-lhe a novela caso nenhum personagem cativasse o espectador no fim do terceiro mês.

Foi o que aconteceu. Bemvindo Sequeira mudou a postura de seu personagem, se tornando um vilão debochado, lunático, infantilizado e cômico. Deu certo: Zebedeu se tornou o Impedor de Jatobá e protragonista da trama, colocando os então protagonistas na posição de coadjuvantes.

A guindada fez desaparecer personagens do alicerce na história original, como os pais de Juliana, vividos por Jonas Mello e Ângela Leal. A novela se tornou uma comédia e foi esticada, recebendo participações especiais como: Agildo Ribeiro, Marilia Pera e Roberta Close.

De cara, Zebedeu mandou pintar todas as casas da cidade. Transformou sua casa em uma verdadeira “corte”, influenciando na forma dos demais personagens se vestirem, causando uma mudança drástica em aspectos que geravam rejeição.

Para manter a audiência pelos onze meses em que permaneceu no ar, o diretor Walter Avancinni lançou mão de alguns recursos. Entre eles, as participações especiais de Roberta Close, Marília Pêra, Agildo Ribeiro, Elba Ramalho, Alexia Deschamps e Antônio Grassi.

A novela foi reprisada em 2007 pela Band, às 22h, com médias de cinco pontos de audiência.

Sinopse de Mandacaru

A história de Mandacaru, inspirada no cangaço – marca de um dos períodos mais sangrentos e emocionantes da história do Brasil -, se passa na fictícia cidade de Jatobá no violento sertão de 1938, ano em que Lampião foi assassinado. A trama apresenta o universo nordestino sob a ótica dos cangaceiros e faz um resgate histórico da região quando a repressão do Estado Novo de Getúlio Vargas anunciava o fim do cangaço.

A escolha do nome – Mandacaru, planta que resiste às mais duras secas – já dá uma idéia da trama. O fogo cruzado entre os rebeldes e os volantes – como eram chamados os grupos policiais que perseguiam os cangaceiros – , ocorrerá paralelamente ao triângulo amoroso entre o perigoso Tirana(Victor Wagner), que luta para manter vivo o sonho do cangaço, Juliana (Carla Regina), a filha de Honorato (Jonas Mello) importante coronel da região de Jatobá, e Aquiles (Murilo Rosa), um tenente disposto a tudo para acabar com o banditismo no interior do Nordeste. A mocinha será arrancada do altar pelo bandido durante seu casamento com Dr. Edgar (Jandir Ferrari), o médico da cidade pelo qual ela nada sente. Seqüestrada, Juliana acaba se apaixonando pelo vilão.

Em Mandacaru, a figura rude do cangaceiro dá espaço também ao seu lado humano. Em meio a esse triângulo amoroso, Zebedeu (Bemvindo Sequeira), ambicioso em tomar o poder, reúne o seu bando e ataca a cidade de Jatobá. O cangaceiro assume o poder da cidade e, acreditando ser um enviado de Dom Sebastião, graça concedida pela personagem de Elba Ramalho, instaura um poder monárquico na cidade se intitulando Imperador de Jatobá. A partir desse momento, em meio às maldades que manda seus capangas praticarem, se torna o protagonista de cenas engraçadas, e o centro das atenções da novela.

A trama mostra um universo diversificado: a questão da terra, a repressão policial, os coronéis que não queriam mudanças, o sertanejo sofrendo com a miséria e o banditismo tentando sobreviver. Além disso, Mandacaru é pontuada por superstições, sexo e misticismo. A novela também não desperdiça a oportunidade de explorar as crendices do folclore nordestino e fanatismo religioso, tão comum no Nordeste, que está representado em Mandacaru por dois personagens antagônicos: Frei Dodô (Guilherme Piva) é generoso e perambula pelo sertão atendendo às populações mais carentes; já o padre Waldeck ( Carlos Alberto) toma partido dos poderosos e ignora os humildes, preocupado unicamente com seu conforto pessoal.

Os coiteiros – informantes dos cangaceiros – estão incluídos na trama e são representados principalmente por Lustosa (Tião DAvilla) e Dinda (Teresa Sequerra). Aliás, Dinda também se encaixa na parte cômica da novela porque bate no marido, o bêbado Terto, vivido por José Dumont. Ao contrário do que se possa imaginar, o humor tem destaque na história e há um aspecto lúdico nos personagens.

Mesmo não sendo baseada em personagens reais, uma profunda pesquisa antropológica, social e cultural abrange a trama. E Mandacaru se torna reveladora ao mostrar a história de um Nordeste que muitos jamais conheceram.

Texto originalmente escrito por Enio Marcio do Valle Leite, em 20/10/2005

Elenco de Mandacaru

Chamada de Elenco de Mandacaru - 1997

  • VICTOR WAGNER – Tirana
  • CARLA REGINA – Juliana
  • MURILO ROSA – Tenente Aquiles
  • BENVINDO SIQUEIRA – Zebedeu
  • JONAS MELLO – Coronel Honorato Guedes
  • CARLOS ALBERTO – Padre Waldeck
  • ALTAIR LIMA – Desidério
  • MIRIAM PIRES – Vó Isabel
  • JOSÉ DUMONT – Terto
  • JAYME PERIARD – Zagaia
  • JOANA LIMAVERDE – Neném
  • ÂNGELA LEAL – Olívia
  • OSWALDO LOUREIRO – Maldonado
  • TERESA SEQUERRA – Dinda
  • ALBY RAMOS – Agenor
  • ANSELMO VASCONCELLOS – Coronel Fenelon
  • ALESSANDRA MAIA – Maria
  • ALEXANDRA MARZO – Madalena
  • ALEXANDRE ZACCHIA
  • ALEXIA DESCHAMPS – Arlete
  • AMAZYLES DE ALMEIDA – Açucena
  • ANA PRADO – Divina
  • ANDRÉ MATTOS – Hosana
  • ANDRÉA AVANCINI – Zuzu
  • ANDRÉA GUERRA
  • ANDRÉA RICHA – Serena
  • ANTÔNIO GONZALEZ – Zé Caro
  • CAMILO BEVILÁCQUA – Faísca
  • CARLA MARTINS – Venância
  • CARLOS MACHADO – Capitão Luís Cavalcanti
  • CARLOS THIRÉ – André
  • CASSIANO CARNEIRO – Lustozinha
  • CÁTIA FREITAS – Pé de Pato
  • CLAUDIONEY PENIDO – Sargento Casimiro
  • CRISTIANA ESTEVES – Carlota
  • CLAUDIA PETRINA – Mena
  • DÉO GARCEZ – Godê
  • ED XIMENES – Passarim
  • EDMUNDO FÉLIX – Miudinho
  • ELIANA GUTTMAN – Nevinha
  • ESPERANÇA MOTTA – Leopoldina
  • EUGÊNIO BRETAS – Teobaldo
  • EVANDRO LEANDRO – Jiló
  • FABIANA RAMOS – Djanira
  • FELIPE WAGNER – Bispo Celestino Gonzaga
  • GILSON MOURA – Sereno
  • GISELE FRAGA – Mila
  • GUILHERME PIVA – Frei Dodô
  • HENRI PAGNOCELLI – Dr. Baraúna
  • IVAN SETTA – Maritaca
  • JANDIR FERRARI – Dr. Edgar
  • JEFFERSON BRITO – Biju
  • JÚLIO BRAGA – Marco Mantovani
  • JÚLIO LEVY – Serafim
  • LAFAYETTE GALVÃO – Coronel
  • LUÍS MAGNELLI – Oficial de Justiça
  • LUIZ ARMANDO QUEIRÓZ – Tenente
  • MAJÔ DE CASTRO – Déia
  • MARCÉLIA CARTAXO – Amália
  • MÁRCIA SANTOS – Raimunda
  • MARCOS PASQUIM – Eduardo Alencar
  • MATHEUS PETINATTI – Fala Baixo
  • MELISSA MEL – Gracinha
  • MOARA SENEGHINNI – Jerusa
  • MURILO ELBAS – Marinheiro
  • NANI VENÂNCIO – Bem-Me-Quer
  • NILL MARCONDES – Meia-Noite
  • NINA DE PÁDUA – Maria Batalhão
  • PAULA MELISSA – Geralda
  • PAULO HESSE – Ferreirinha
  • RAYMUNDO DE SOUZA – Felipe Câncio
  • RICARDO TEILA – Luiz Paixão
  • ROBERTO LOPES – Chico Pentecoste
  • ROGÉRIO FABIANO – Jurandir de Jesus
  • ROGÉRIO WAGNER – Tonhão
  • RONEY VILELLA – Baioneta
  • SANDRA PÊRA – Baiana
  • SEBASTIÃO LEMOS – Antenor Alencar
  • TÂNIA BÔSCOLI – Manuela
  • TERESA SEQUERRA – Dinda
  • THELMA RESTON – Filó
  • TIÃO D’ÁVILA – Lustosa
  • VALDIR FERNANDES – Capitão Fontes
  • VIVIANE VICTORETTE – Rosário
  • WÁLTER SANTOS – Avelós

Participações Especiais

  • ALCEU VALENÇA – Lampião
  • DANIELA MERCURY – Maria Bonita
  • MARÍLIA PERA – Isadora
  • AGILDO RIBEIRO – Salustiano
  • ROBERTA CLOSE – Maitê Flores
  • TÂNIA ALVES – Severina Dantas
  • ELBA RAMALHO – Beata
  • ALEXIA DESCHAMPS – Arlete
  • ANTÔNIO GRASSI – Glauco Corrêa

Elenco de Apoio:

  • AMANDA PINHEIRO
  • ANDERSON DE AGUIAR
  • ANDRÉIA RIBEIRO
  • ATHAYDE ARCOVERDE
  • CARLOS ESTUPIÃ
  • CRISTINA FERRO
  • CRYSTIANE PIRES
  • ED OLIVEIRA
  • ERONILDO CLARINDO
  • FÁBIO MENESCAL
  • GILVANILDO LIMA
  • HIRAN COSTA JR.
  • IZLENE CRISTINA
  • JOÃO JUNIOR
  • JOSÉ DE ALENCAR
  • JOSÉ ROBERTO LOPES
  • KAKAU BALBINO
  • KIKA MAGNONI
  • KIKO NUNNES
  • LUIZ LOBO
  • LULLA MORENO
  • MAURÍCIO GANGUÇU
  • NILL NEVES
  • PATRÍCIA CARVALHO
  • PAULO PORTES
  • RENATO OLIVEIRA
  • RICARDO MARCOS
  • SOPHIA BISSILIAT
  • VERA FERREIRA
  • WANDERSON LEGEY

Ficha Tecnica

Novela de Carlos Alberto Ratton, Mandacaru foi roteirizada por Calixto de Inhamuns e Douglas Salgado. Escrita também por Gregório Bacic e Clóvis Levi. Colaboração de Zeno Wilde, Tyrone Feitosa e Yoya Wursh.

Trama inicial inspirada no romance Dente de Ouro de Menotti Del Picchia.

Direção de Ivan Zettel, Lizâneas Azevedo, Luís Antônio Pillar, Jacques Lagoa e Felipe S. Tenreiro.

Direção geral de Walter Avancini.

Horário: 21h30. De 12 de agosto de 1997 a 8 de agosto de 1998