Arquivos e marca ‘TV Manchete’ são vendidos após 22 anos

Após dois leilões fracassados, ativos são arrematados, pondo fim a um dos maiores mistérios dessa história: os arquivos da emissora.

Após dois leilões sem interessados, a marca “TV Manchete” foi finalmente arrematada no dia 14 de outubro de 2021, pela cifra de 240 mil reais. Além da marca, também foram repassados no leilão todas as 25 mil fitas umatic do seu arquivo de programas, novelas e jornalísticos. Todo o conteúdo rendeu cerca de 500 mil reais, que deverão ser convertidos em pagamentos de dívidas com os ex-funcionários.

O acervo foi negociado em dois lotes: o mais caro, com as novelas e minisséries, por cerca de 200 mil reais, foi arrematado pelo mesmo comprador que levou a marca da emissora. Já o segundo lote de conteúdo, com todo o resto, foi negociado pela bagatela de R$ 60 mil reais, tendo em suas fileiras títulos clássicos como telejornais, documentários, infantis, e as famosas transmissões do carnaval.

Os compradores, no entanto, não levaram automaticamente os direitos para a exploração comercial das obras. Isso só poderia ser feito após o pagamento dos direitos conexose autorais, e só depois de investir na recuperação e digitalização das fitas, armazenas há mais de vinte anos em condições pouco conhecidas. A conta é difícil de fechar, razão pela qual acredita-se que os leilões anteriores tenham fracassado.

As novelas produzidas a partir de 1995, quando a empresa criou a Bloch Som e Imagem justamente para resguardar os direitos patrimoniais das novas obras. Desde 1993, o empresário Hamilton Lucas, que havia comprado a emissora em 1992, tentava recuperar seu controle na justiça.

Empresa ôca… dívidas sem dono

Em 1999, a Manchete vendeu os cinco canais, com o aval do o governo federal, numa transação pouco trivial: o comprador não levou a empresa TV Manchete Ltda, à época dona de uma dívida impagável. O restante da empresa foi negociado com outro empresário, Fabio Saboya, que tinha know-how em adquirir empresas falidas e fazer dinheiro através da gestão de seus ativos.

A “criativa” saída é contestada até hoje. Jornalistas e ex-funcionários alegam que o governo agiu contra a lei quando transferiu os cinco canais a outro grupo econômico sem a realização de uma nova concorrência pública. Isso causou uma bizarrice: a empresa deixou de ter seus principais ativos, sem uma contrapartida que compensasse parte de sua grande dívida. Agora, com a venda da marca e do acervo, este pepino fica ainda mais exposto: uma enorme dívida está sem responsável, sendo sua maior parcela composta por calotes com FGTS e Previdência. Ou seja, com os ex-funcionários.

Restam poucos ativos que possam render algum dinheiro, como os prédios das filiais(alguns já invadidos), nas cidades de Belo Horizonte, Fortaleza e Recife. Provavelmente serão negociados por baixos valores, sem “fazerem cócegas” no montante devido. A estimativa em 2020 era que o total chegasse a mais de 120 milhões de reais só com credores privados, ou seja, fora as dívidas trabalhistas.

Por Diogo Montano

Diogo Montano é Bacharéu em Ciência da Computação, pós graduado em Gestão de Negócios, e trabalha há quase vinte anos unindo duas coisas que sempre gostou: comunicação e tecnologia. Cresceu assistindo à Globo e Manchete, canais de tv que tinham as melhores imagens da região. Em 1999, ainda antes de entrar na faculdade, publicou a primeira versão deste site, logo após a venda da Manchete.