Istoé – 28 de outubro de 1998

A magia inútil
Crise na Manchete enterra novela mística Brida, bem antes de seu final
por VALÉRIA PROPATO
A Rede Manchete viu sepultada, às 22h da sexta-feira 23, sua derradeira tentativa de alavancar audiência e atrair o mercado publicitário. Pouco mais de dois meses depois de estrear, a novela Brida foi ao ar pela última vez, sem o capítulo final gravado. Há um mês com os salários atrasados do elenco e dos técnicos, o diretor de Brida, Walter Avancini, não teve outra saída a não ser encerrar a novela no capítulo 52, quando normalmente ela alcançaria o número 190. Para não deixar os telespectadores totalmente na mão, um patético e improvisado desfecho para a trama foi resolvido com imagens congeladas na tela sob um texto em off contando o destino de cada personagem. Final feliz, pelo menos na ficção, respeitando a história original escrita por Paulo Coelho. Brida (Carolina Kasting) vence as forças do mal, assume seus poderes sobrenaturais e se entrega ao amor de Lorens (Leonardo Vieira). Mas na vida real as cores são cinzentas. Na terça-feira 20, os 40 artistas do elenco saíram em manifestação pelas ruas do centro do Rio de Janeiro e entraram com ação contra a emissora no Tribunal Regional do Trabalho.
Brida estreou com sete pontos de audiência e terminou nos três. O que não causa nenhum estranhamento, já que o roteiro era fraco, a sonorização péssima e os figurinos pavorosos. Avancini, 63 anos, há dois meses sem receber, fez um mea-culpa. “A novela tinha problemas de desenvolvimento da história e por isso troquei os roteiristas. Se tivesse mais tempo, teria conseguido torná-la mais atraente para o público.” Carolina Kasting anda mais desolada que o diretor. “É muito cruel. Meu trabalho foi intenso e melhorei muito como atriz”, chora. Há oito anos, o império Bloch vem arrastando dívidas trabalhistas e com fornecedores hoje estimadas pelo mercado em R$ 900 milhões.