Clodovil Abre o Jogo foi a maior atração da Manchete em 92

Clodovil voltou à Manchete em 1992, agora como uma aposta do novo sócio e gestor da emissora, o Grupo IBF. Arrancou verdades, foi uma das maiores audiências daquele que foi o pior momento da emissora. Mas saiu brigado de novo um ano depois.

Em 13 de julho de 1992 o Clodovil Abre O Jogo, uma das poucas novidades anunciadas pelo grupo IBF. Diário, previsto para ir ao ar na faixa das 22h40. O programa era anunciado bem ao estilo do apresentador:

“Talk-show” é talk-show. Mas sob o comando de Clodovil, é algo mais. É jogo aberto. Nada de meias palavras. Muito sincero e sempre surpreendente, o que Clodovil diz para as lentes faz da sua TV uma tela da verdade.

Locutor, nas chamadas de Clodovil Abre o Jogo.
Clodovil, apresentador da Manchete, 1992
Clodovil, em Abre o Jogo, apresentador da Manchete, 1992

Foi através dele que o estilista popularizou o bordão: “Olha para a lente da verdade e diz”.

“Vocês querem que eu ponha o dedo nas feridas, mas não estou gostando muito desse papo de mandar abrir o jogo. Lavar roupa suja no meu programa? Vai virar O Povo na TV, é?”, questionava à sua equipe durante as primeiras gravações.

Mas a audiência das primeiras semanas ficou longe do que a nova Manchete sonhava para o horário. O objetivo de confrontar Jô Soares parecia piada diante do traço de audiência. O Clodovil soft não estava dando retorno. Em agosto, um[ mês após a estreia, o apresentador voltou ao seu estilo venenoso.

Supla subiu na mesa em protesto ao fato do apresentador insistir para que o roqueiro respondesse a perguntas familiares, quando o cantor queria comentar a situação política do país. Também tentou, de todo jeito, tirar Otavio Mesquita do armário, embora o publicitário nunca tivesse entrado em um. E afirmou que Fitippaldi tinha dinheiro na Suiça.

As língua afiada do apresentador deu resultado: o programa começou a dar de 3 a 7 pontos em São Paulo, se tornando uma das maiores audiência do canal. Naquela época, a Manchete ocupava a 6a posição de audiência na Grande São Paulo, passava por forte crise financeira, e sua maior audiência era a versão genérica do Documento Especial (que havia se transferido para o SBT), Manchete Especial – Documento Verdade, que registrava 8 pontos nas noites das quintas-feiras.

A gente conta com isso… Se näo, vamos capitalizar
em cima do quê?… O importante é que ele está trazendo público de volta…

Nilton Travesso, diretor artístico da Manchete entre 1988 e 1993


“A gente conta com isso… Se näo, vamos capitalizar
em cima do que?”, afirmou Nilton Travesso, diretor artístico da Manchete. O diretor dizia que o apresentador passeava entre a
“intuição necessária para uma abordagem original, e a
“irreverência” que desvenda” o outro lado do entrevistado. Eventuais ofensas são risco. “O importante é que ele está trazendo público de volta”.

“Desarmar entrevistado é o que
eu faço, porque na defesa ninguém
mostra seu lado verdadeiro … Trato as pessoas como seres humanos, no sentido do afeto”.

Clodovii Hernandez, agosto de 1992.

A atração contava também com o pianista Ronaldo Pelicano, chamado de “Paixão” por Clodovil.

Se consolidou como um dos programas de maior audiência, muito raramente atingindo menos de 5 pontos. Tinha custo baixo e representava bem a proposta de controlar custos e ter alto retorno, como queria a direção da emissora.

Com o programa gravado, Clodovil não escondia seu desapontamento com o fato: “Eu preferia que fosse ao vivo. Imagine se na vida real a gente para de repente para arrumar a luz?” Também reclamava quando o casting de convidados não o agradava, e exigia que a equipe conseguisse alguns nomes.

No primeiro semestre de 1993, Clodovil deixou novamente a emissora, e não poupou críticas. “Pior do que eu estava na Manchete? Cortaram os telefones por falta de pagamento, cheguei a fazer programa sem plateia porque não havia dinheiro para pagar os ônibus que traziam o público e nem o lanche”.