Logo de Xica da Silva, 1996 - Rede Manchete

Xica da Silva devolve Manchete à vice-liderança

No dia 17 de setembro de 1996, às 21h45 de uma terça-feira, entrou no ar a novela que levaria a dramaturgia da Manchete de volta ao segundo lugar de audiência, e à disputa pela terceira posição no ranking da TV aberta.

Apoiada por uma grade semanal repleta de programas jornalísticos mais populares, desenhos japoneses, transmissões das Olimpíadas, Raul Gil aos sábados, e uma novela com boa repercussão, a emissora já ocupava a vice na média do horário nobre carioca, e parecia estar se recuperando de suas crises, finalmente, através de um posicionamento sustentável.

A escolha por Xica

A direção da Manchete estava decidida a investir em tramas adaptadas de obras literárias de grande sucesso, algo que unia o discurso de “conteúdo qualificado” – dado o valor histórico e/ou literário – com a atratividade natural que uma obra de sucesso de leitores carrega para a TV. Além disso, também garantia alguma diferença em relação ao estilo da líder no segmento, a TV Globo.

Procurando uma história forte e que mantivesse a audiência de “Tocaia Grande” (com médias de 12 pontos), Walter Avancini encomendou a Silvan Paezzo uma sinopse que consolidasse as histórias de três livros de Machado de Assis. A trama tinha até nome de trabalho: “Paixão”. Mas apesar do potencial apresentado pela sinopse, a produção foi considerada muito cara para o orçamento disponibilizado.

A direção da emissora optou então pela segunda alternativa: a adaptação do romance “Chica que manda“, de Agripa Vasconcellos, cuja história, além de forte e atraente, ia de encontro aos crescentes movimentos em prol da cultura afro no Brasil.

A “superprodução” da década de 90

Sendo assim, Avancini começou o que considerava “a superprodução da década de 90”, e lançaria mão de duas armas bem conhecidas para chamar a atenção do público: 1) capricho na retratação histórica, com a tradicional riqueza de detalhes das produções de época da Manchete; e 2) erotismo.

Para tanto, a emissora investiu 6 milhões de dólares entre cenários, figurinos, e uma cidade cenográfica retratando o “Arraial do Tijuco” do século XVII (atual Diamantina-MG).

Mas cadê a protagonista?

Tudo pronto para o início das gravações, mas ainda faltava um importante detalhe: a escolha da protagonista. Depois de uma rigorosa seleção por todo o país, o diretor descobriu que sua “Xica da Silva” estava ali mesmo, dentro da emissora. Tratava-se de Taís Araújo, que terminava as gravações de “Tocaia Grande”, onde vivia a personagem Bernarda.

Chamada de estréia de Xica da Silva

Mesmo bem mais nova que a personagem(a atriz tinha 17, enquanto Chica tinha por volta de 25), Taís segurou o papel, convenceu o grande público, ganhou projeção nacional e conquistou o reconhecimento da crítica.

No papel de sua mãe estava Zezé Mota, que vivera, nos anos 70, a “Chica” do filme de Cacá Diegues.

Sucesso

Xica da Silva teve médias em torno dos 18 pontos, com picos de 22, garantindo o segundo lugar de audiência, e recolocando a Manchete na terceira posição do ranking geral da TV Brasileira. A novela foi exportada para diversos países.

Um dos fortes momentos da novela aparece quando Maria, mãe de Xica, é morta, tendo seus braços e pernas amarrados a quatro cavalos que, assustados por um tiro disparado pelo sargento mor, correm em direções contrárias, esquartejando o corpo da negra em plena praça pública. Além dessa, as cenas que envolviam as bruxarias de Benvinda(Miriam Pires) e Violante(Drica Moraes) também não economizaram em efeitos especiais.

Abertura Original

Mulheres fortes

As protagonistas deram um show à parte. A antagonista Violante, mulher racista, egoísta e amargurada, fez Drica Moraes provar que não sabia fazer apenas comédia. A protagonista, da então novata Taís Araújo, cresceu rapidamente ao longo da trama, superando as expectativas.

As cenas de nudez ganharam destaque na trama. Adriane Galisteu foi recrutada para a missão, em mais uma jogada de marketing do diretor. Sua personagem Clara vivia semi nua, perambulando pelos riachos da região. Foi uma saída criativa para contornar a menoridade de Taís Araújo que, durante os primeiros meses ainda não poderia cumprir este papel. Em compensação, quando completou 18 anos, Walter Avancini fez barulho, com direito a capa da revista Manchete (“Xica da Silva faz 18 anos”).

Quem será Adamo Angel?

Um suspense rondava os bastidores da novela: o diretor Walter Acancini escondeu, durante muito tempo, a real identidade do autor da novela. A imprensa especulava que poderia se tratar de algum autor famoso de outra emissora que estaria usando o pseudônimo “Adamo Angel”. Afinal, a novela era um sucesso, o que afastava a hipótese de “Adamo” ser um iniciante na função. Por outro lado, sendo um profissional com bagagem, alguém teria, alguma vez, ouvido falar de um nome tão peculiar.

Walcyr Carrasco

A identidade só foi revelada meses depois da estreia. Adamo era, na realidade, Walcyr Carrasco, então roteirista auxiliar do SBT, e que acabou sendo recontratado pela emissora de Silvio Santos como autor titular de novelas. Em 1998, o canal levou ao ar sua primeira e única novela no canal: Fascinação (com Regiane Alves). Em seguida, foi contratado pela Globo para escrever “O Cravo e a Rosa”, reencontrando Avancini.

“Xica” chegou ao fim no dia 18 de agosto de 1997, ficando ao todo por 11 meses no ar. Contou ainda com participações especiais, como a da atriz italiana Cicciolina, além de Sérgio Viotti, Sérgio Brito, Lu Grimaldi e Ângela Leal, entre outros.

Clipe de relançamento de Xica da Silva pelo SBT - 2005

Reprise no SBT

A novela foi comprada pelo SBT em 2004, das mãos de Pedro Jack Kapeller, que ainda tinha títulos do acervo da Manchete. Isso porque os programas produzidos a partir de 1995 pertenciam à Bloch Som & Imagem, uma empresa que não foi à falência junto com seu grupo controlador, em 2000.

Silvio Santos recorreu à obra da Manchete como estratégia para frear o crescimento da Record que, em 2004 fazia sucesso com a novela Escrava Isaura. Xica foi reexibida na faixa das 21h15 e alavancou a audiência do canal, atingindo médias de 15 pontos. Garantiu o segundo lugar isolado e, apesar de não concorrer com a novela da Record, acabou ofuscando o sucesso da produção da concorrente.

O SBT tentou camuflar a informação de que a novela tinha sido produzida por outra emissora. Em momento algum citou a TV Manchete, nem mesmo nos créditos finais, e maquiou a obra, dando nova abertura e música tema.

Galeria de Fotos

Ficha Técnica

Novela produzida pela Bloch Som & Imagem e exibida pela Rede Manchete, de 17 de setembro de 1996 a 11 de agosto de 1997, com 231 capítulos exibidos às 21h45 de segunda a sexta-feira.

Baseada no livro “Chica Que Manda”, de Agripa Vasconcellos, foi concebida por Walcyr Carrasco (sob o pseudônimo de Adamo Angel), e escrita pelo próprio Walcyr, com a colaboração de José de Carvalho.

Teve direção de Walter Avancini, Jacques Lagoa, João Camargo, J. Alcântara e Lizâneas Azevedo, e direção-geral de Walter Avancini.

A história de Xica da Silva

Xica da silva contou a história de uma escrava que virou rainha em pleno século XVIII. Atrevida e muito inteligente, Xica conquistou um marido rico, deixou de ser escrava e escandalizou a sociedade hipócrita de sua época, movida pela cobiça do diamante.

A história se passa na região do Arraial do Tijuco, em Minas Gerais, que depois se chamaria Diamantina. Xica, vivida por Taís Araújo, e Quiloa (Mauricio Gonçalves), dois escravos cansados dos mandos e desmandos de seu dono, o então contratador do Arraial do Tijuco, forjam um plano para roubar os diamantes extraídos da região, que o contratador guardava dentro de casa . O plano tem sucesso e, arruinado, o casal é preso pela Coroa de Portugal, perdendo suas propriedades e deixando, para trás seus três filhos, entre eles, a traumatizada Clara, vivida por Adriane Galisteu e Martin, personagem de Murilo Rosa.

Com todo o dinheiro em mãos e, para não levantar suspeitas, o casal decide esconder a caixa recheada de diamantes dabaixo da terra, para que, no futuro, tivessem dinheiro suficiente para comprar suas cartas de alforria.

Com a prisão do Contratador, Xica é vendida para o sargento-mor Cabral (Carlos Alberto), pai de Violante (Drica Moraes). Quiloa consegue fugir para o quilombo.

Na casa do sargento-mor, Xica conheceria o novo Contratador da Região, João Fernandes (Victor Wagner). Prometido a casar-se com Violante, o moço se encanta pela escrava e resolve comprá-la. Não querendo desagradar o contratador, Cabral vende a negra. Xica ficou pouco tempo na casa do sargento-mor, mas foi suficiente para que ele a violentasse sexualmente, tirando sua virgindade.

Convivendo com o Contratador, Xica desenvolveria ainda mais a paixão do rapaz. Depois de muito brigar com Violante, ele resolve desfazer o noivado e admitir publicamente sua paixão pela escrava. Esperta e decidida, Xica, desalforriada, se mune dos maiores luxos possíveis, com direito a um mar dentro de sua fazenda com um navio, além de possuir nada mais que sete mucamas.

Xica da Silva transformou-se numa verdadeira rainha, sempre esnobando a nobreza que antes a chicoteoava. Mesmo descriminada pela maioria, sempre foi dotada do dom de ajudar aos amigos. Apaixonada pelo marido, estava disposta a defender sua relação com unhas e dentes, inclusive batendo de frente com Violante, que a infernizava constantemente, demonstrando seu amor doentio pelo contratador. Para destruir Xica, utilizou inclusive métodos medievais, com ajuda da bruxa Benvinda, avó de Zé Maria, interpretada por Míriam Pires.

Maria das Dores, vivida por Carla Regina e filha do Capitão-mor, interpretado pelo cantor Eduardo Dusek, fora prometida para Martin, filho mais velho do antigo contratador. Quando Matin perdeu tudo o que tinha e seus pais fugiram do Arraial, o capitão-mor proibiu seu casamento com Das Dores. Apaixonado, o casal passa, ao longo da história, as maiores dificuldades para conseguirem se encontrar. Das Dores é então prometida para o Capitão-do-Mato Jacobino (Haroldo de Oliveira) e é forçada a casar-se com ele. Apaixonados, Martin e das Dores resovem fugir, e ajudados por Xica Da Silva tiveram que se virar para não serem encontrados.

Acusada de bruxaria, por armação de Violante, Xica é presa e julgada à fogueira pela Igreja. Para libertar Xica, o contratador casa-se com Violante, que, influente, retira as acusações, libertando a ex-escrava. João Fernandes e Violante viajam para Portugal, separando assim o contratador de sua amada. Os dois se casam ,asm logo após a cerimônia, João Fernandes abandona Violante em seu Castelo e vem rever Xica no Brasil.

Violante se casa, mas logo depois, é largada pelo contratador. A moça corre atrás dele, mas fica sozinha e louca em seu castelo.

Na última cena da novela, Xica(Zezé Mota) aparece no casamento de sua filha (Taís Araújo), celebrado pelo seu filho mais velho(Ademir Zenyor), relembrando suas emoções com o contratador.

Texto originalmente escrito por Diogo Montano, em 24/09/1999

Trilha Sonora de Xica da Silva

  • XICA RAINHA – Patrícia Amaral, Marcus Viana e Transfônica Orkestra (tema de abertura)
  • QUENDA – Patrícia Amaral
  • TRINDADE – Marcus Viana
  • CONCERTO DE OUTUNO – Transfônica Orkestra
  • CACO DE ESTRELA – Zezé Motta
  • TOQUE DE ALBA – Transfônica Orkestra
  • CANÇÃO DE NINAR – Carla Villar
  • TEMA DE XICA (QUENDA) – Marcus Viana
  • CAPITÃO DO MATO – Transfônica Orkestra
  • ENCONTRO DAS ÁGUAS – Eduardo Dusek
  • ESCARLATE – Marcus Viana e Transfônica Orkestra
  • CANÇÃO & LUNDU – Collegium Musicum Brasiliensis
  • COROAÇÃO DO REI DO QUILOMBO – Transfônica Orkestra
  • BRINCADEIRAS BARROCAS – Transfônica Orkestra

Tema de Abertura: (original da Manchete)
XICA RAINHA – Patrícia Amaral, Marcus Viana e Transfônica Orkestra

Glória, glória rainha
Glória Xica da Silva
Sou Xica, sou Xica da Silva
Sou Xica escrava, Sou Xica Rainha
Sou, sou anjo barroco (barroco?)
Sou, santa do pau oco (do pau oco?)
Do céu das Gerais a mais linda estrela
Do Tijuco a princesa
Me chame de alteza!
Anjo, diabo ou mulher
Negro diamante
Sou Xica da Silva
Mas pro meu senhor amado
Meu amor é ouro no cascalho
Anjo, diabo ou mulher
Negro diamante
Sou Xica da Silva…

Elenco de Xica da Silva

  • TAÍS ARAÚJO – Xica da Silva
  • VICTOR WAGNER – Contratador João Fernandes
  • DRICA MORAES – Violante
  • CARLOS ALBERTO – Sargento-Mor Thomaz Cabral
  • ZEZÉ MOTTA – Maria
  • GUILHERME PIVA – José Maria (Zé Mulher)
  • MURILO ROSA – Martin
  • CARLA REGINA – Das Dores
  • ALTAIR LIMA – Jacobino
  • EDUARDO DUSEK – Capitão-Mor Gonçalo
  • ELIANE GUTTMAN – Dona Céu
  • FERNANDO EIRAS – Luiz Felipe
  • TERESA SEQUERRA – Dona Micaela
  • MAURÍCIO GONÇALVES – Quiloa
  • DALTON VIGH – Frei Expedito
  • GIOVANNA ANTONELLI – Elvira
  • JAYME PERIARD – Félix
  • ANABELA TEIXEIRA – Graça
  • ANTÔNIO MARQUES – Manuel Pereira
  • LÍDIA FRANCO – Guiomar
  • ROSA CASTRO ANDRÉ – Joaquina
  • ALEXANDRE LIPIANI – Padre Eurico
  • ANDRÉA AVANCINI – Eugênia
  • JOSÉ STEINBERG – Padre Aguiar
  • RITA RIBEIRO – Úrsula
  • MATHEUS PETINATTI – Xavier
  • CHARLES MÖELLER – Santiago
  • MÍRIAM PIRES – Dona Benvinda
  • LECY BRANDÃO – Severina
  • DÉO GARCEZ – Paulo
  • LUCIMARA MARTINS – Maria Benguela
  • MARIA ALVES – Rosa
  • HAROLDO DE OLIVEIRA – Jacinto
  • MARIA CLARA – Paulina
  • LU GRIMALDI – Fausta
  • MÁRIO CARDOSO – Sebastião (2o capitão-mor)
  • GONÇALO DINIZ – Dragão Macário
  • MILENE ACOSTA – Menina Pia
  • RENATA OLIVEIRA – Agnes
  • ROMEU EVARISTO – Damião
  • ILÉIA FERRAZ – Fátima
  • ALEXANDRE MORENO – Jerônimo
  • DELMA SILVA – Jelena
  • LUDMILA DAYER – Isabel
  • INGRID FRIDMAN – Ana
  • OCTÁVIO VITORENSE – Carlos
  • ADRIANE GALISTEU – Clara (Mãe D´Agua)
  • EDSON MONTENEGRO – Mandinga
  • SÉRGIO FONTAS – Dr. Pedras
  • GLÓRIA PORTELA – Irmã Veridiana
  • ANDRÉ FELIPPE DI MAURO – Duarte
  • MARJORIE ANDRADE – Amélia
  • NEY PADILHA – Juvenal
  • WALNEY COSTA – Dr. Lourenço
  • JOANA LIMAVERDE – Catarina
  • ALÉXIA DESCHAMPS – Condessa Efigênia
  • THALMA DE FREITAS – Caetana
  • LOURDES MAYER – Madre Superiora
  • CLÁUDIA BORIONI – Teodora
  • CARLA TAUSZ – Genoveva
  • LUCIANO RABELO – Dragão Amaro
  • FERNANDO VIEIRA – Dragão Bonifácio
  • IVANO FERREIRA
  • LUI MENDES
  • LÉA GARCIA
  • NILL MARCONDES
  • ANA CECÍLIA
  • ÉRICA MARQUES
  • ADEMIR ZANYOR
  • MARCO POLO
  • KIKO ZAMBIANCHI
  • ANA LUIZA
  • ANA PAULA CÂNDIDO
  • EDSON BRANCO
  • ELISEU DE SOUZA
  • FERNANDA LACULLI
  • GERALDA LOPES
  • LÍLIAN PACHECO
  • MARCELA CARVALHO
  • MARCOS SILVA
  • MÔNICA MOURA
  • STELLA ALANE

Participações Especiais

  • ÂNGELA LEAL – Marquesa Carlota
  • DONA ZICA (da Mangueira)
  • SÉRGIO VIOTTI – Conde da Barca
  • SÉRGIO BRITTO – Conde Valadares
  • ILONA STALLER (CICCIOLINA) – Princesa Ludovica de Castella
  • PAULO CÉSAR GRANDE – Dom Evaristo de Sepúlveda Toledo
  • REYNALDO GONZAGA – Contratador Felisberto Caldeira
  • KHRISTEL BYANCCO – Emerenciana
  • MARCOS BREDA – Amadeu
  • SILVIA BUARQUE – Elisa
  • ZÓZIMO BULBUL – Caetano
  • PAULO REIS – Comandante