Documento Especial: Televisão Verdade

Famoso programa jornalístico do fim da década de 80, o Documento Especial nasceu criticado pela sociedade nada realista que tínhamos. O programa mostrava questões do cotidiano como se o telespectador estivesse presente no local da matéria.Chegou a ser líder muitas vezes, ganhou prêmios, e migrou para o SBT quando a…

O Documento Especial entrou no ar em agosto de 1989, às 23h30 de uma quarta-feira, com apresentação de Roberto Maia e direção geral de Nelson Hoinnef. Ambos desempenhavam, até então, as funções de apresentador e editor-chefe do Jornal da Manchete Segunda Edição. O telejornal de fim de noite da Manchete dava trabalho para o Jornal da Globo na década de 80, e era tido por parte da crítica como o melhor telejornal da TV.

Imagem de Jornalismo da Rede Manchete
Logo do programa

A polêmica faz parte do roteiro do Documeto Especial já a partir da sua concepção. Foi a partir de uma briga que o programa nasceu! Nelson Hoinnef, então editor-chefe do “Segunda Edição“, discutiu com o seu seu chefe imediato, que era o diretor executivo de jornalismo da Manchete, Mauro Costa. Hoinnef pediu demissão, mas Pedro Jack Kapeller não aceitou, e encomendou ao jornalista um projeto novo.

Neste momento, Hoinneff viu a oportunidade para tentar resolver algo que o incomodava: “gente feia não poderia aparecer na Manchete“, segundo suas próprias palavras em entrevista recente ao site TV História. Jaquito ouviu sua ideia, gostou e autorizou a produção de um piloto.

Abertura do Documento Especial

Primeira abertura do programa na TV Manchete, em 1989

Formato do Documento Especial

Com um formato similar ao consagrado Globo Repórter, o Documento abordava semanalmente um assunto pertinente à vida da sociedade, mas tinha uma notável diferença na linguagem: se despia dos limites estéticos da atração global, e de outras atrações do gênero da própria Manchete, como o Manchete Documento ou Programa de Domingo.

O jornalístico se propunha a ir muito além do que normalmente os programas jornalísticos mostravam na TV, dando prioridade para assuntos polêmicos, guetos, submundos, e cenas ultrarrealistas. A proposta era mostrar a verdade nua e crua. Para marcar esse posicionamento, adotou desde a estréia a assinatura “Televisão Verdade”.

Roberto Maia no Documento Especial
Roberto Maia no Documento Especial

Repercussão

O resultado veio rápido. De traço de audiência no horário, a Manchete atingiu 2 pontos logo na estreia. As edições seguintes tiveram números crescentes, e no final do primeiro mês, o programa marcou 9 pontos no Ibope.

Devido ao sucesso de público e crítica, o “Documento” rapidamente deixou a faixa das 23h30(pós linha de shows), sendo transferido para as sextas-feiras, às 22h40, logo após a novela principal da emissora (Kananga do Japão, Pantanal, Ana Raio e Zé Trovão, O Fantasma da Ópera e Amazônia, respectivamente).

Além da mudança de horário, passou dos iniciais 30 minutos para uma hora de duração. Passou a contar com o reforço da novela que o antecedia, já recebendo uma audiência maior, e numa faixa horária com mais televisores ligados. Além disso, na Globo, era o horário do término do Globo Repórter. Naturalmente o público que assistia às novelas da Manchete se somava aos telespectadores do jornalístico global, levando o “Documento” à liderança de audiência em diversas edições, chegando a registar pico de 47 pontos no Ibope.

Documento Especial deixa a Manchete

Em maio de 1992, em meio a uma das maiores crises financeiras da Manchete e que culminaria no mês seguinte na sua fracassada venda para o Grupo IBF, Nelson Hoineff aceita o convite de Silvio Santos para transferir o programa para o SBT. 

O dono do SBT ofereceu ao diretor dez vezes mais do que seu salário na Manchete. Hoinnef impôs três condições:

1- que toda a equipe de produção do Documento na Manchete também fosse contratada;

2-Todos receberiam um aumento substancial nos seus salários;

3- O programa continuasse sendo produzido no Rio de Janeiro;

Silvio topou todas as condições. No SBT, porém, a equipe sofreria censura e interferências da direção da emissora, o que não ocorria na Manchete. Essa falta de liberdade desanimou o diretor, que saiu da emissora três anos mais tarde (o sbt lançou o sbt repórter para preencher o espaço).

Manchete lança similar

A Manchete então recorreu a uma versão “genérica”, mas com plástica idêntica ao programa original, e nome quase idêntico:”Manchete Especial Documento Verdade“. Logotipo, cenário, tipografia, linguagem e até a voz do seu apresentador (Henrique Martins), eram muito semelhantes ou idênticos ao programa original.

Entre 1989 e 1992, se destacaram as edições Os pobres vão à praia(com imagens de preconceito explícito e de um homem morto), Muito feminina (abordando a homossexualidade feminina), Luta livre, O suicídio dos indios Kaiowá, Amor, Vida de gordo (a maior audiência conquistada pelo programa, em 1990), Igreja Universal (a primeira vez em que práticas escusas da Igreja Universal do Reino de Deus eram denunciadas), entre outros.