Entrevista com o repórter Renato Chappot

Repórter por mais de 10 anos na Manchete, Renato Chappot vivenciou os períodos importantes da história da emissora, como os anos de ouro, a venda pra IBF, a retomada por Bloch, até a transição para a RedeTV!

Renato Chappot foi repórter da Manchete por mais de 10 anos, onde atuou em muitos programas jornalísticos, com maior frequência no Programa de Domingo e no Jornal da Manchete. Saiu logo após a TV Ômega/RedeTV! assumir, rumo à TV Record.

Em 2003, ano no qual a Manchete completaria 20 anos, o repórter foi um dos entrevistados deste site. Confira:

Programa de Domingo: Reportagem de Renato Chappor no Programa de Domingo sobre o lançamento do portal da Bloch na Web - TV Manchete
Programa de Domingo: Reportagem de Renato Chappor no Programa de Domingo sobre o lançamento do portal da Bloch na Web – TV Manchete

Qual foi a melhor época para você, como profissional, dentro da Manchete?

[Chappot]: Apesar das crises financeiras que a Manchete atravessou nos 10 anos em que trabalhei lá, eu diria que, profissionalmente, esse foi o melhor período da minha vida. Lá, conheci pessoas incríveis, que se tornaram muito amigas e com quem mantenho contato até hoje. Além de grandes amigos, se tornaram alguns dos melhores profissionais da TV brasileira e que hoje, brilham em outras emissoras, como a TV Globo e a Globonews.

E a época mais difícil ?

O pior período foi, sem dúvida, o da última greve, que antecedeu a venda para a TV Ômega. Foram oito meses de paralisação e de muitas dificuldades para vários funcionários.

Em todos esse anos, você recebeu propostas melhores de outras empresas que o fariam largar a Manchete? Se sim, porque continuou na Manchete?

[Chappot]: Recebi dois convites para trabalhar na TV Globo, mas preferir ficar, porquê me pareceu mais conveniente na época. Não havia uma grande diferença salarial. Aliás, talvez nem houvesse diferença. E na Manchete, eu tinha conquistado um espaço, que ainda não existia na TV Globo.

Quando a Manchete passou para as mãos do grupo IBF, em 1992, o que mudou para você?

[Chappot]: Não foi um bom período para ninguém, eu acredito. Os salários começaram a atrasar logo depois que eles passaram a administrar a TV.

E comigo, particularmente, aconteceu um fato sui generis: se não me engano, no mês de outubro daquele ano, fui o único de toda a empresa, incluindo as outras praças, a não receber integralmente o salário. Eles reconheceram que havia algo errado, mas disseram que não podiam me pagar. Então decidi parar de trabalhar, com o apoio dos chefes de reportagem, na época.

Numa segunda-feira, quando começava minha greve particular, fui escalado para fazer um ao vivo para o jornal da Manchete, sobre os 80 anos do bondinho do pão-de-açúcar. A direção soube que eu estava em casa por não ter recebido o salário e mandou me demitir. Ao chegar na TV, com minha carteira de trabalho, fui chamado à sala do diretor, na época o Mauro Costa, e depois de 3 horas de conversa, fui readmitido, sem ter sido efetivamente demitido. Continuei na Manchete, mas recebi o que me deviam.

Imagem de História da Rede Manchete
1997: Renato Chappot, repórter da Manchete por 11 anos.

É verdade que você foi um dos idealizadores do episódio no qual a Manchete foi retirada do ar em 1993? Se sim, fale um pouco sobre este icônico momento.

[Chappot]: Havia uma greve que já durava uns cinco meses. Eu tinha ido a poucas assembleias. A situação tinha se tornado insustentável. Pessoas passando fome; um absurdo. Ficou decidido naquela assembleia que iríamos invadir o prédio, na rua do Russel, na glória e acampar na TV, até que fosse feito algo.

Chegando lá em cima, sugeri aos colegas, que escrevêssemos o seguinte: “estamos fora do ar, por falta de pagamento.” imediatamente após tomarmos o controle da TV e colocarmos no ar essa mensagem, ligamos para as redações das outras televisões, rádios, jornais e revistas e pedimos uma cobertura do episódio. A repercussão foi enorme. O Jornal Nacional deu uma nota coberta. Os jornais estamparam a foto da tela com a mensagem no dia seguinte. Começou naquele dia, o processo de retomada da Manchete pelo grupo Bloch.

Quando a Manchete foi finalmente vendida em 1999, você estava lá ou já não trabalhava mais na emissora? O que fez quando a rede ficou nas mãos do grupo renascer?

[Chappot]: Eu fiquei na Manchete por 10 anos e continuei depois, na RedeTV. Nunca pus os pés no prédio, no período do Grupo Renascer, apesar de ter sido convocado uma vez para voltar ao trabalho. Estávamos em greve e assim ficamos, até a venda para a TV Ômega.

Você chegou a ficar, durante algum desses episódios, sem fonte de renda?

[Chappot]: Durante as greves, sobrevivia trabalhando como free-lancer. Na última greve, trabalhei na campanha do PDT, que elegeu Anthony Garotinho, governador do Rio de Janeiro, entre outros trabalhos.

Supondo que fosse possível, gostaria que a TV Manchete voltasse ao ar?

[Chappot]: A Manchete faz falta, muita falta.

O mercado de televisão no Rio, ficou muito menor.

Há pessoas competentes, que não conseguiram se recolocar completamente e muitas outras que tiveram a chance de voltar ao mercado, mas tiveram que aceitar salários que não condizem com a qualidade do trabalho que podem apresentar.

Como espectador, acho que a Manchete tb faz falta.

Foi uma televisão que inovou; que lançou muita gente; que sempre teve uma preocupação com a qualidade, como se viu em programas como Bar Academia; o Programa De Domingo, onde trabalhei.

Ela também deixou sua marca no telejornalismo, cobrindo com isenção e até diria coragem, fatos importantes como as “Diretas Já”.

Sinceramente, me orgulho de ter participado dessa equipe ao lado de pessoas que ajudaram a escrever a história do telejornalismo brasileiro, como Eliakim Araújo & Leila Cordeiro; Márcia Peltier; Ronaldo Rosas; Solange Bastos; Leilane Neubarth; Paulo Alceu; Alice-maria; Mauro Costa; Zevi Gvelder; Jayme Monjardim; Bia Falbo; Paulo Lima; Viviane Lima; Morgana Doimo; Martha Corrêa; Luiz Ernesto Lacombe; Márcia Prado; Ricardo Costa Leite; Carlos Chagas; Ligia Dutra; Cátia Moraes; Helena Lara Resende; Patrícia Cabral.

Além desses, que muitos devem conhecer do vídeo, gostaria de destacar outros colegas, que são profissionais de altíssima qualidade:

  • Eduardo Marotta, editor;
  • Ângela Garambonne, editora;
  • Monica Maria, editora;
  • Eduardo Salgueiro, produtor;
  • Flávia Jácomo, produtora;
  • Márcia Monteiro, editora-chefe Rio em Manchete e Edição da Tarde;
  • Paula Levy, editora;
  • Jacqueline (como é o sobrenome dela?), editora uma das pessoas mais engraçadas da tv brasileira. deveria ter um progrma; um seriado!!!!!!!!
  • Cláudia Turella, editora Progarma De Domingo;
  • Nelma Esteves, chefe De Reportagem;
  • Inês Valldão, pauteira Editora;
  • Francisco Tadinni, chefe De Reportagem;
  • Jordan Lima, chefe De Reportagem;
  • Pascalle Pfann, editora;
  • Mônica Chaves, editora;
  • Jorge Herculano, coordenador Técnico;
  • Regina Celia Lopes, sub-editora Do Jornal Da Manchete;
  • Sheila Vaz, editora-chefe Do Jornal Da Manchete;
  • Maria Inês Herzorg , editora-chefe Do Jornal Da Manchete.

E os cinegrafistas:

  • Genito Jr;
  • Josias Andrade;
  • Nelson Fonseca;
  • Marco Parada;
  • Luiz Cabral;
  • Paulo Cardoso;
  • Joel Da Conceição;
  • Paulo Maria;
  • Junior Alves;
  • Jorge Barros;
  • Sérgio Telles;

O que você mudaria na emissora, de modo a firmar uma boa relação audiência/faturamento?

[Chappot]: A forma de administrar e tentaria fazer uma TV, que fosse uma alternativa ao que está aí. Certamente, não brigaria pela maior audiência, mas fugiria da mesmice e muitas vezes, do mau gosto.

Por Diogo Montano

Diogo Montano é Bacharéu em Ciência da Computação, pós graduado em Gestão de Negócios, e trabalha há quase vinte anos unindo duas coisas que sempre gostou: comunicação e tecnologia. Cresceu assistindo à Globo e Manchete, canais de tv que tinham as melhores imagens da região. Em 1999, ainda antes de entrar na faculdade, publicou a primeira versão deste site, logo após a venda da Manchete.