1990: Pantanal leva a Manchete ao auge

Inaugurada a sede paulistana. Pantanal esteia e impulsiona a grade. Em julho, o Banco do Brasil embarga os bens da emissora. A Manchete leva sua equipe pra Copa da Itália, a última viagem do comentarista João Saldanha. O faturamento bate US$120 milhões

Em janeiro de 1990, Adolpho Bloch inaugura a nova sede de São Paulo, depois de mais de dois anos de obras que custaram 25 milhões de dólares.

Chamadas de estreia - Pantanal, 1990

Em março estreia Pantanal. Com orçamento de US$ 8 milhões, a novela revelou a natureza exuberante da região, banhos de rio, personagens lendários e o texto de um veterano: Benedito Ruy Barbosa. Deu um bote no Ibope. Bateu a Globo, passando dos 30 pontos, levando o faturamento da emissora a US$ 120 milhões no fim do mesmo ano. Sucesso de público e mania nacional, a novela proporcionou à Manchete o melhor momento de sua trajetória em audiência, faturamento e prestígio. Pantanal foi dirigida por Jayme Monjardim.

Cristiana Oliveira e Marcos Winter
A saga pantaneira

Benedito Ruy Barbosa havia tentado emplacar a história na TV Globo, na faixa das 18h, horário para o qual escrevia suas novelas. A emissora considerou o projeto caro e complicado logisticamente, e propôs gravá-la no interior de SP. O autor não quis, e acabou aceitando o convite de Jayme Monjardim para fazer a novela na Manchete.

A história ocuparia a faixa das 19h30, reativando o segundo horário de novelas da emissora. Mas diante da falta de uma trama para substituir Kananga do Japão, Benedito foi encarregado de fazer adaptações na história para adequá-la ao público das 21h30.

O resultado foi um sucesso inesperado, que influenciou a linguagem dramatúrgica da TV Brasileira e fez grande do público brasileiro aprender a trocar de canal..

Em julho, o Banco do Brasil embarga os bens da emissora para garantir o pagamento de US$ 60 milhões em dívidas.

A Manchete colocou novamente seu time em campo para a cobertura da Copa do Mundo na Itália. A novidade foi uma mesa redonda de mulheres que ia ao ar duas horas antes do início dos Jogos do Brasil. Comandada por Leda Nagle e Mylena Ciribelli, e participação de Monique Evans, Luiza Brunet, Alcione e Cristiana Oliveira.

A notícia triste foi a morte do comentarista e ex-técnico da seleção brasileira, João Saldanha. Doente, pediu que a emissora mantivesse sua viagem. A Manchete preparou uma UTI para recebê-lo na Itália quando saísse do avião. Saldanha faleceu durante a Copa do Mundo.

Em julho, a Folha de São Paulo noticiava a possível ida de Faustão para a Manchete. Na Manchete, o “Domingão do Faustão” seria todo ao vivo, no auditório da nova sede paulista da emissora, e exibido das 17h às 20h. O apresentador também faria, semanalmente, um programa noturno de entrevistas. Mas a Globo cobriu a oferta.

Euforia

O crescimento nunca antes visto nos números de audiência levaram a TV de Adolpho Bloch a uma situação paradoxal. Ao mesmo tempo que sofria com os juros das dívidas, com o arresto de equipamentos e movimentos grevistas (que a bem dizer afetaram todas as emissoras de TV), Pantanal liderava a audiência de ponta a ponta, e de quebra, era antecedida por um Jornal da Manchete forte, comandado por Leila Cordeiro e Eliakim Araújo e sucedida por programas como Documento Especial e minisséries. A programação matutina e vespertina também exibia infantis de sucesso, como Changeman, Flashman, Jaspion e os desenhos animados comandados por Angélica.

Minisséries

O Canto das Sereias, com Ingra Liberato, Nani Venâncio e Andreia Fettar
O Canto das Sereias, com Ingra Liberato, Nani Venâncio e Andreia Fettar

Para alavancar ainda mais a audiência, a emissora voltou a apostar em minisséries na faixa das 22h30, colada em Pantanal. Ao longo do ano foram ao ar A Escrava Anastácia, O Canto das Sereias, Mãe de Santo e Rosa dos Rumos, sob o guarda-chuva Fronteiras do Desconhecido.

O resultado foi animador. As séries mantinham boa parte do público de Pantanal, estendendo a liderança da Manchete por mais de duas horas em pleno horário nobre. Em Mãe de Santo foi veiculado o primeiro beijo gay masculino da TV Brasileira (veja).

Por Diogo Montano

Diogo Montano é Bacharéu em Ciência da Computação, pós graduado em Gestão de Negócios, e trabalha há quase vinte anos unindo duas coisas que sempre gostou: comunicação e tecnologia. Cresceu assistindo à Globo e Manchete, canais de tv que tinham as melhores imagens da região. Em 1999, ainda antes de entrar na faculdade, publicou a primeira versão deste site, logo após a venda da Manchete.