Logotipo do Clube da Criança, 1983-1986, apresentado por Xuxa

Clube da Criança foi pioneiro e lançou sucessos

O Clube da Criança foi o primeiro programa de um formato que dominaria a programação infantil da TV até o fim da década de 90. Também revelou estrelas como Xuxa e Angélica, e ainda foi o primeiro a exibir. no país, seriados japoneses e animes que fizeram a cabeça de…

O Clube da Criança foi o primeiro programa infantil de auditório, com crianças e para crianças, do país. Foi também o celeiro de estrelas como Xuxa e Angélica, e porta de entrada para heróis japoneses como Jaspion e Os Cavaleiros do Zodíaco, sendo imediatamente copiada pelas outras emissoras. A Manchete também foi uma das maiores importadoras dos desenhos da Hannah Barbera.

Todas as apresentadoras do Clube da Criança, da TV Manchete
Mylla Christie, Angelica, Debbie, Xuxa e Pat Beijo

Primeiro infantil de auditório

Era no fim de tarde que a Manchete oferecia seus principais produtos para a garotada. Assim não concorreria com Globo e SBT, já estabelecidas nas manhãs e tardes.

O programa que cumpriu esta tarefa pela maior parte do tempo foi o “Clube da Criança”. A atração mesclava desenhos animados e brincadeiras no palco com crianças, lideradas pela então modelo Xuxa Meneghel. O “Clube” fez parte da grade de estreia da Manchete e, nos primeiros meses de operação, abria a programação diária da emissora, de segunda a sábado às 17h. Às 19h, Xuxa dava seu “beijinho beijinho, tchau tchau”, e entregava para o Jornal da Manchete.

A novidade conquistou o público, garantindo a vice-liderança em muitas capitais e fazendo de Xuxa a queridinha das crianças. A apresentadora participou de três filmes dos Trapalhões, ganhou um especial de Natal, e lançou seu primeiro LP solo em 1985.

Assediada pelas concorrentes, assinou contrato com a Globo em janeiro de 1986 para comandar um programa com o mesmo formato do Clube, o Xou da Xuxa. A Manchete manteve o clube no ar só com os desenhos animados até agosto daquele ano, quando substituiu o programa pelo Lupu Limpim Clapla Topo, com Lucinha Lins.

Palhaço-coach

O Clube teve a consultoria do palhaço Carequinha, que tinha tido um programa para o mesmo perfil de público 20 anos antes na TV Tupi. O artista deu orientações para a produção e para a própria apresentadora, e foi o criador de muitas brincadeiras que permaneceram no ar até os anos 90. Carequinha ganhou um programa próprio meses depois, o Circo Alegre.

Clube da Criança com Xuxa

Xuxa no Clube da Criança, TV Manchete
Xuxa no cenário do Clube da Criança, na Rede Manchete, 1985

Xuxa foi a primeira apresentadora do também primeiro programa de auditório infantil da TV brasileira, o Clube da Criança. O programa cresceu em audiência rapidamente, e se tornou vice-líder num horário costumeiramente assistido por adultos, entre 17h e 19h, de segunda a sábado. Ainda na Manchete, Xuxa gravou seu primeiro disco, fez seu primeiro especial de fim de ano, e inevitavelmente deixou a emissora em janeiro de 1986, rumo à TV Globo.

“Mais do que um programa infantil, um clube onde os sócios são as crianças e as atrações desenhos animados inéditos. Xuxa, a apresentadora, continua recebendo cartas de todo o Brasil, que vão concorrer a milhares de prêmios, entre eles uma maravilhosa viagem à Disneylândia.”

Anúncios do Clube da Criança, em julho de 1983

O formato

Em seu primeiro dia de exibição, o Clube era uma grande sessão de desenhos, sem apresentadora. Mas como os desenhos são feitos por temporadas, alguns só tendo uma, era imperativo ter um programa fixo, com elementos próprios para a fidelização do público.

Por isso Mauricio Shermman pensa num formato no qual os desenhos fossem recheados por jogos, brincadeiras no palco com uma plateia composta só por crianças, distribuição de prêmios e atrações musicais para o público infantil. A apresentadora ideal, na visão de Sherman, deveria ter um perfil específico e seria determinante para a consolidação do formato.

A escolha de Xuxa

Durante a formação da grade de programação de estréia da emissora, Mauricio Sherman, então Diretor Artístico do canal, queria alguém para apresentar a sessão de desenhos animados que se estenderia das 17h e 19h, diariamente. O horário trazia um desafio: agradar crianças, claro, mas também a pais e mães, já que eles competiriam pelo uso do aparelho com seus filhos. Para agradar a todos, ou no mínimo não desagradar os adultos, o diretor queria alguém que:

  1. falasse a língua das crianças, de igual para igual;
  2. fosse bonita e elegante a ponto de inspirar as mães; e
  3. atraísse a atenção masculina.

Xuxa Meneghel, que na época namorava Pelé, reunia as características desejadas. A modelo foi “descoberta” porque volta e meia batia ponto nas revistas da Bloch (publicações para todos os públicos, não apenas o masculino!).

A então modelo gravou o primeiro programa numa correria devido a compromissos de trabalho, ganhou a simpatia de todas as crianças do Brasil. O sucesso foi acima do esperado.

Desenhos

Durante estes anos, o programa tinha a participação de crianças no palco, com jogos, músicas e brincadeiras, intercalados por desenhos animados, a maioria dos estúdio Hannah Barbera. Nos primeiros meses, entre outros, foram veiculados:

  • Emergência + 4
  • A Família Drácula
  • Calvin e o Coronel
  • Lord Gato e Marmaduke
  • O Pirata do Espaço
  • Superaventuras
  • Sport Billy
  • A Família Trololó
  • D’Artagnan e os Três Mosqueteiros
  • Lord Gato e a Turma do Abobrinha
  • Goldie Gold

Abertura e início do Clube da Criança, em 1985

Xuxa decola

Agora modelo e apresentadora, a loira participou pela primeira vez como cantora, em 1984, no disco que levava o nome do programa. Além de Xuxa, o grupo tinha o palhaço Carequinha e a dupla Patrícia e Luciano (do “Trem da Alegria“). O destaque foi a canção “É de chocolate“, regravada por Xuxa no fim da década de 90. Também tinha as musicas de abertura do “Clube” e do Circo Alegre (que antecedia o programa de Xuxa diariamente).

Em 1985, a apresentadora já tinha conquistado o país e, em cidades como o Rio de Janeiro, ocupava a vice-liderança isolada. Com o tempo o programa ganhou mais minutos, chegando a ter três horas de duração.

Xuxa também tinha acabado de gravar seu terceiro filme da franquia “Os Trapalhões”, que na época era garantia de sucesso de bilheteria, uma das maiores franquias em venda de ingressos do cinema nacional.

LP Xuxa e Amigos, 1985
LP Xuxa e seus amigos, 1985, época do Clube da Criança, na TV Manchete.

Prestigiada, no fim de 1985 ganhou seu próprio Especial de Natal, o primeiro dos muitos que faria ao longo da sua carreira. O programa foi lançado com pompas no prédio da Manchete e bastante elogiado pela imprensa.

O programa também serviu como divulgação do álbum “Xuxa e seus amigos“, seu primeiro disco “solo”, que teve a participação de nomes de peso como Caetano Veloso.

Beijinho, beijinho…

Com audiência e popularidade crescentes, a apresentadora era constantemente assediada por outros canais. A Globo, no fim daquele ano, tinha dois problemas em suas manhãs: o TV Mulher acabaria; e o Balão Mágico, que ia ao ar em seguida, já perdia fôlego. A ideia, naturalmente, seria trazer a apresentadora queridinha da criançada para uma atração que ocupasse toda a faixa matutina.

Em janeiro de 1986, Xuxa aceitou o convite da TV Globo. Se transferiu com a diretora Marlene Mattos, as Paquitas, e boa parte da equipe de produção para a emissora do Jardim Botânico.

Para tapar o buraco, a Manchete manteve os desenhos animados no ar até a estreia do Lupu Limpim Clapá Topo, com Lucinha Lins e Claudio Tovar, que só aconteceu em agosto.

Angélica no Clube da Criança

Em outubro de 1987, cerca de um ano após a saída de Xuxa, a Manchete relançaria o Clube da Criança sob o comando de Angélica, que naquele momento, tinha apenas 13 anos de idade. Desde maio daquele ano, a adolescente apresentava o matinal “Nave da Fantasia”, depois da saída de sua titular para o SBT.

Imagem 14 de Clube da Criança da Rede Manchete
Segundo LP da Angélica – Manchete – 1989

O desempenho da apresentadora à frente da Nave, aliado à simpatia que a loira recebia de Adolpho Bloch, motivaram a emissora a remanejá-la para a faixa infantil principal, e digna a usar o título que projetou Xuxa: Clube da Criança.

Com a mexida, saiu do ar o conceituado “Lupu Limplim Caplá Topo”, com Lucinha Lins e Claudio Tovar, que ocupava a faixa desde agosto de 1986.

Angélica se tornaria, já no ano seguinte, a maior estrela da emissora!

Em 1989 lançou seu primeiro disco, com o sucesso “Vou de Taxi”, se tornando uma espécie de hino em sua carreira.

Angélica apresentou o Clube por seis anos, a que mais tempo esteve à frente do programa, atravessando a fase de maior audiência da emissora. Por isso é a mais associada ao programa.

Novidades a cada ano

Em 1988 a apresentadora ganhou a companhia de sucessos do outro lado do mundo: os japoneses Jaspion e Changeman, que estreaream dentro do Clube e se tornaram sucessos imediatos. As séries fizeram a audiência do programa triplicar em São Paulo frente aos índices até então registrados pelos desenhos da Hannah Barbera.

Todos os anos o programa apresentava mudanças na abertura e nos cenários. Em 1990, pegando carona em Pantanal, o palco virou uma selva. Em 1991, com a temática de Ana Raio e Zé Trovao, o cenário tinha partes representando as várias regiões do país.

O Clube continuou estreando novos seriados japoneses ao longo dos anos: Flashman, Jiyraia e Lionman em 89; Jiban e Cybercop em 1990; Kamen Rider Black, Maskman e Spielvan em 1991.

Mudanças de horário

No auge, em 1990, o programa chegou a ser apresentado das 13h às 18 horas, numa época em que a Manchete só ficava atrás da Globo no Rio e brigava pelo segundo lugar com o SBT em São Paulo. O programa contava com a presença dos seriados japoneses de sucesso na época, além de consagrados desenhos animados e claro, musicais e brincadeiras.

Imagem 36 de Clube da Criança da Rede Manchete
Clube da Criança com Angélica

Em 1992, sob gestão da IBF, tiveram a infeliz ideia de colocá-la nas manhãs, brigando com Xuxa(Globo) e Mara Maravilha(SBT). A audiência despencou, e logo recolocaram a apresentadora em seu horário tradicional.

Crescendo com seu público

Aos quinze anos, Angélica ganhou, além do Clube, um programa nas tardes de sábado. O Milk Shake tinha a ambição de ocupar a lacuna deixada pela morte de Chacrinha (da Globo). O programa cravava médias de 14 pontos no Rio e 7 em São Paulo, sendo outro sucesso absoluto.

A apresentadora também fez filmes com Os Trapalhões, lançou subprodutos, e até protagonizou a minissérie O Guarani, na própria Manchete, em 1992.

Bye que Bye Bye Bye

Diante da crise administrativa que a Manchete atravessou em 1993, diversas redes concorrentes fizeram propostas para que Angélica deixasse a casa. Ironicamente, no dia em que deixou a Manchete rumo ao SBT, a apresentadora recebeu uma correspondência de Adolpho Bloch pedindo que ela não deixasse a emissora porque ele havia reassumido o controle da empresa naquele instante. Mas a apresentadora já estava com o contrato assinado com o canal de Silvio Santos.

Mylla Christie no Clube da Criança

Mylla Christie no Clube da Criança, 1993
Mylla Christie no Clube da Criança, Rede Manchete, 1993

Em junho de 1993, logo depois que Adolpho Bloch reassumir o controle da TV Manchete, a emissora convidou Mylla Christie para estrear como apresentadora à frente do Clube da Criança, que ficara desfalcado com a ida de Angélica para o SBT.

A preferência por uma atriz convergia com o estilo da atração. O programa era ambientado num circo, e a apresentadora interagia com as crianças, caracterizada como mágica. Um de seus assistentes de palco era o Chumbinho, interpretado por Sérgio Hondjakoff.

Mylla aceitou um contrato diferente do habitual, devido às condições financeiras da emissora: a apresentadora teria que conseguir patrocinadores e bancar todo o custo de produção. O que sobrasse, dividiria com a emissora. Como já tinha uma carreira como atriz prévia, conseguiu. Mariane e Tati Bitati, convidadas antes de Mylla, recusaram por não conseguirem atender a este requisito.

Em 22 de novembro de 1993, o programa foi reformulado. Abandonou o cenário circense, e ganhou ação, passando a contar com competições todos os dias:

  • segundas: “Faça você mesmo”, no qual a criança criava brinquedos reciclando materiais e “sonho de artista”. Neste, quem tivesse entre 8 e.15 anos poderia se inscrever para representar uma história. O candidato terá uma semana para estudar seu texto. O melhor ator-mirim de cada mês ganhava uma bolsa numa escola de teatro.
  • terças: “Sonho de circo”, cujo prêmio era uma matrícula numa escola de circo.
  • quartas: Mylla e sua equipe satirizavam programas de todas as emissoras em “TV cover”.
  • quintas: dia de “Sonho de passarela”. Neste quadro, a criança desfila e se produz na hora, com roupas oferecidas pela produção do programa. O vencedor ganha como prêmio a roupa com a qual desfilou.
  • sextas: dia de “O grande júri”, onde vilões das histórias infantis eram julgados.

O programa durou até fevereiro de 1994, pois Mylla assinou contato com a TV Globo para atuar na minissérie Engraçadinha (na qual interpretou a protagonista durante a primeira fase).

Clube da Criança com Pat Beijo

Para substituir Mylla Christie no Clube da Criança, a emissora apostou na Miss Brasil Patricia Nogueira. A bela loira, com apenas 16 anos de idade, foi até a sede da emissora para fazer fotos para a revista Manchete, que traria matéria sobre o concurso e a ganhadora. O desempenho de Patricia tirando fotos despertou o intesse de produtores da emissora, que a chamaram para um teste no mesmo dia. A modelo agradou e ficou com o posto.

Pat Beijo apresentou o Clube da Criança entre1994 e 1995
Patricia Nogueira comandou o Clube da Criança entre1994 e 1995, na Rede Manchete

O Clube ganhou cenários e abertura novos, como de costume. Agora a apresentadora surgia no palco como uma boneca humana, e se transformava em apresentadora. Todos os programas iniciavam desta forma. Patricia lançou também um LP e uma boneca barbie sua, com faixa de miss, que vendeu mais de 20 mil exemplares.

O programa ia ao ar das 16h45 às 18h45, apresentava os desenhos de Hannah Barbera, tinha brincadeiras no palco, e tudo mais que um infantil de auditório costumava ter. Patricia se despedia com o bordão “Pat Beijo pra vocês”. E chamava os intervalos com “Pat Pat Rapidinho”, sendo acompanhada pelas crianças.

Foi dentro do programa que estreou Os Cavaleiros do Zodíaco, desenho japonês que atingiria o segundo lugar de audiência. Isso fez com que a média da apresentadora fosse respeitosa.

Mas em 1995, devido à dureza financeira, a emissora cancelou a produção do programa, e manteve apenas os desenhos no ar. Sem apresentadora

O Clube retornaria só em 1997.

Debby

Logo do Clube da Criança, 1998
Logo do Clube da Criança, com Debby, em 1998, na Rede Manchete

Em 1997, depois de três anos, o Clube voltou ao ar. Agora, sob o comando de Debby Lagranha, uma menina de apenas cinco anos de idade. A emissora investia na peq, havendo inclusive o projeto de uma novela protagonizada pela lorinha.

Como Debby era muito nova, o formato era mais simples. O programa tinha 30min de duração e sem auditório. A apresentadora mesclava os desenhos dos estúdios Hannah Barbera com atividades diversas, e tinha a companhia de um boneco, o “coelhinho”. E também recebia convidados que ensinavam atividades diversas, ou cantavam.

No fim de 1998, devido à crise generalizada na emissora, o programa foi extinto.