1992: A venda para o Grupo IBF

Amazônia fracassa, e diante de uma situação já muito difícil, Bloch acerta o repasse de 49% das ações mais a gestão da empresa para empresário ligado ao governo Collor. Com o naufrágio financeiro do novo dono, a situação só piora, e a Manchete chega no fim do ano sem seus principais talentos, e funcionários em greve pelo país.

Em dezembro de 91, entrou no ar a superprodução Amazônia. Dirigida pela mesma equipe de Pantanal, liderada por Jayme Morjardim e trazendo boa parte do elenco desse grande sucesso, tinha como principal objetivo repetir o êxito da saga dos Leôncios. Porém, antes mesmo de sua estreia, Jayme Monjardim deixou a Manchete. Seus braços direitos até então, Roberto Naar, Marcelo de Barreto e Carlos Magalhães, responsáveis por Pantanal, permaneceram à frente do projeto.

Chamada de estreia de Amazônia

A história era confusa, e a audiência caiu dos 10 pontos da esteia para dois. Para tentar recuperar parte daquele investimento, mantendo cenários, cidade cenog’rafica, figurinos, etc, Tizuka Yamazaki foi chamada para voltar à emissora e fazer uma novela a partir da novela. O feijão com arroz de sempre ganhou nova abertura e novo logotipo: Amazônia Parte II. A audiencia esboçou reação, com sete pontos. Mas aos poucos a novela foi sofrendo dos males da emissora, que trocou de dono.

Com o fracasso da novela somado aos problemas financeiros que se avolumavam desde o ano anterior, ficou sem saída, e a direção confirmou a intenção de vender a emissora.

Revista feminina de volta!

Almanaque, programa ao vivo (diariamente das 18h30 às 15h30) que inaugurou o estúdio paulista da Manchete, ocupou novamente o papel de programa para a mulher, preenchendo uma lacuna existente desde o fim da franquia “Mulher” (Jornal Mulher, Mulher 90, Mulher 88 e Mulher 87). “Almanaque” era mais sortido tematicamente, falando também sobre cultura, por exemplo.

Tinha Jussara Freire na culinária e Wilson Cunha falando de cinema. E também tinha plateia, algo que não havia nas atrações anteriores. O programa ganhou mais tempo de grade quando a Manchete foi para as mãos da IBF.

Planos não concretizados

Mesmo com este cenário, que já apontava para a venda da emissora, entrou uma nova programação na segunda quinzena de abril. O diretor artístico da emissora Nilton Travesso, anunciou uma linha de shows às 22h30. Nosso Tempo, jornalístico mensal, passava a ser semanal.

Cesar Filho acumula com Almanaque um programa de variedades noturno e o costureiro Clodovil discutia bases contratuais para ocupar as noites de segunda-feira com um talk-show.

A novela O Caipira, de Chico de Assis, com Juca de Oliveira no papel principal estava no orçamento de 1992 e seria realizada para ocupar o horário das 19h30. E uma outra novela americana seria exibida à tarde, antes do Programa Márcia Peltier.

Como Sérgio Groisman- que já estava com o pé na emissora-desistiu de levar o Programa Livre do SBT para a Manchete, Nilton examinou projeto apresentado pelo ator Cassiano Ricardo (ex-Enigma, da TV Cultura) para preencher o espaço pensado para atender os adolescentes.Não rolou.

Assim que voltasse de Portugal, Agildo Ribeiro começaria a produção de seu programa diário de fim de noite. O mix de show e entrevista, seria gravado em volta da piscina de mármore do prédio da Manchete no Rio e ambientado numa interminável festa. Durante uma hora Agildo circularia entre convidados famosos, faria entrevistas e mostraria seus dotes de showman, a pretexto de astro contratado para atração dessa festa fictícia.

Quando Amazônia Parte II chegasse ao fim, a intenção era colocar no lugar uma novela de época inspirada em O Crime do Padre Amaro, de Eça de Queiroz. Faltava ainda achar um autor pois Walter Negrão, escolhido para a tarefa, só ficou na Manchete por 24 horas. Acertou seu contrato com Nilton Travesso, mas assim como Groisman, desistiu de abandonar a Globo.

Documento Especial no SBT

Em maio Nelson Hoinnef recebeu uma proposta do SBT e transferiu para a emissora paulista o seu Documento Especial Televisão Verdade. A Manchete resolveu tapar o buraco com um programa idêntico, o “Manchete Especial, Documento Verdade”, apresentado por Henrique Martins e dirigido por Adir Ribeiro.

Atolado em dívidas e abatido por movimentos grevistas no Rio e em São Paulo, Adolpho Bloch confirma a decisão de vender a rede. Em junho o empresário Hamilton Lucas de Oliveira, presidente do Grupo IBF (responsável pela impressão de loterias instantâneas) acertou a compra de, inicialmente, 49% das emissoras de TV e rádio do grupo Bloch, por 125 milhões de dólares, o mesmo valor da dívida da empresa.

Estrelas e público fogem durante gestão do grupo IBF

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Em um mês, demitiu mais de 650 funcionários e levou boa parte dos departamentos da emissora para São Paulo, inclusive programas como o Clube da Criança. O sindicato dos radialistas manifestou a preocupação com a transferência da cabeça-de-rede para a capital paulista, e o esvaziamento dos postos de trabalho no Rio. David Raw foi contratado para ser o diretor-geral da emissora.

Ainda em junho, Amazônia chegou ao fim, e em seu lugar foi reprisada a minissérie “As Aventuras Amorosas do Seu Quequé”, produzida pela TV Cultura 10 anos antes. O departamento de dramaturgia da Manchete estava praticamente extinto.

A nova empresa anunciou poucas novidades, entre elas a volta do costureiro Clodovil, para comandar um talk-show noturno, que obteve bons índices de audiência. Mas ainda assim, o programa sofreu, pois em muitos dias não havia fitas para as gravações.

Uma divisão clara se formou entre as emissoras do Rio de Janeiro e de São Paulo. O grupo que agora controlaria a emissora temia que a qualquer momento a geradora do Rio retirasse a emissora do ar, ainda por conta dos muitos atrasos de salários e acordos descumpridos com os novos donos. Uma situação bizarra tomou conta da empresa, que ainda ocupava o prédio da Bloch Editores na capital carioca.

Em dezembro, Leila Cordeiro e Eliakim Araújo deixam a Manchete rumo ao SBT.

O ano de 1992 foi marcado pelo fim de vários programas, demissões em massa, greves, e até uma bomba caseira explodiu no prédio da Bloch Editores. Uma das emblemáticas cenas da história da Manchete envolveu Adolpho Bloch, que saiu à rua chorando pedindo que os funcionários em greve voltassem aos postos de trabalho, antes da venda da emissora. Em outra ocasião, no mesmo ano, o empresário fechou a rua do Russel com caminhões para evitar que o grupo IBF levasse equipamentos da sede carioca para São Paulo.

Por Diogo Montano

Diogo Montano é Bacharéu em Ciência da Computação, pós graduado em Gestão de Negócios, e trabalha há quase vinte anos unindo duas coisas que sempre gostou: comunicação e tecnologia. Cresceu assistindo à Globo e Manchete, canais de tv que tinham as melhores imagens da região. Em 1999, ainda antes de entrar na faculdade, publicou a primeira versão deste site, logo após a venda da Manchete.